A semana, que terminou com a Operação Pixuleco 2 – que aproxima mais a campanha de Dilma das propinas do Petrolão -, foi ruim também para a economia. O Brasil desceu mais um degrau na avaliação de risco das agências internacionais.
Está literalmente à beira do abismo. Falta dinheiro para tudo, menos, é claro, para manifestações remuneradas dos “movimentos sociais” pró-governo. A Marcha das Margaridas – a facção feminina do MST - foi bancada com dinheiro público, da Caixa Econômica e do BNDES, numa ilegalidade flagrante.
Nem o fato de o BNDES estar prestes a sentar no banco dos réus intimidou o governo, que pretendeu exibir a marcha como demonstração de que também tem apoio popular, ainda que nutrido a sanduíches e cachês – o Bolsa Manifestação.
O BNDES deve incluir, a partir de agora, em suas finalidades estatutárias, a cláusula “socorro presidencial”.
Não foi a única ilegalidade. Ao tempo em que a Câmara dos Deputados aprovava a lei antiterror, o presidente da CUT, Vagner Freitas, convocava seus aliados a ir às ruas, “entrincheirados, com armas na mão, combater a burguesia”. Falou do “nosso exército”, que obviamente não é o da Constituição. Ficou explicado por que a CUT se opõe à lei antiterror. Age em causa própria.
Uma ilegalidade dentro da outra: uma passeata bancada com dinheiro público e uma incitação à guerra civil, às vésperas de uma manifestação popular que promete sacudir o país no domingo. O mais espantoso é que a conclamação criminosa de Freitas se deu diante da presidente da República, que nenhum espanto exibiu.
Aliás, espanto é uma palavra que parece banida do glossário político. Os últimos depoimentos e delações obtidos pela Justiça, dentro da Operação Lava-Jato, deixam claro que a reeleição de Lula, em 2006, e as duas eleições de Dilma foram sustentadas com dinheiro sujo, circunstância em que a lei cassa os eleitos.
Como não é possível cassar retroativamente, cassa-se ao menos no presente. A Lava-Jato é a negação da frase presidencial – repetida à exaustão – de que foi eleita de maneira legítima. Ainda que o tivesse sido, isso não a livraria do ajuste com a Justiça, como não livrou Collor, em 1992 – e olhe que Collor não carregava consigo a suspeita de urnas eleitorais fraudadas.
A acusação de que impeachment é golpe não se sustenta, por ter previsão constitucional, como já foi exaustivamente esclarecido. O PT, aliás, desde a redemocratização, pediu o impeachment de todos os presidentes da República: Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Só obteve o de um – Collor -, de quem se tornou aliado incondicional.
Hoje, os mesmos argumentos aplicados a Collor aplicam-se a Dilma, numa escala infinitamente maior.
Como não é possível disfarçar o estrago, o governo decidiu partir para os conchavos. Enquanto a presidente detiver a caneta e o Diário Oficial, tem poder – e, enquanto o tiver, tem meios de atrair apoio, sobretudo no denso campo da fisiologia.
Conseguiu atrair o presidente do Senado, Renan Calheiros, de quem, na semana anterior, era inimiga, e, a partir daí, aproximou-o do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, supondo matar assim dois coelhos com uma só cajadada: reconduzir Janot (que promete derrubar Eduardo Cunha) e preservar Renan das investigações do Petrolão.
Getúlio Vargas dizia que não ter inimigos que não pudesse converter em amigos – e vice-versa. Esse legado foi historicamente absorvido pelo PT e posto em prática no curso da semana.
A ausência de oposição fez com que uma presidência que tem apenas 7% de apoio da população conseguisse passar a ideia de que já superou ameaças a seu mandato e de que a manifestação de amanhã será um fracasso. A conferir.
O problema é que os conchavos não se restringem ao governo. Prosperam igualmente na oposição. O governador Geraldo Alckmin quer Dilma sangrando até 2018, quando espera ter firmado as bases de sua candidatura presidencial.
O senador José Serra quer a ascensão de Michel Temer, que o faria ministro da Fazenda, permitindo que reeditasse a performance de FHC com Itamar Franco. Serra faria seu Plano Real e postularia a sucessão em 2018.
Já Aécio Neves, beneficiário do recall da eleição passada, quer a cassação da chapa presidencial e convocação de novas eleições. Dilma explora o conflito e diz que eles não pensam no Brasil, mas em si próprios. Dilma, claro, pensa no Brasil – tanto que recorreu a Renan Calheiros para apresentar uma Agenda Brasil, um amontoado de propostas, a maioria já conhecidas e nenhuma discutida com a população. Não é proposta: é propaganda.
Lula mandou Dilma circular o país – e ela o está obedecendo, reeditando alguns dos momentos mais patéticos da campanha. Só que agora já não engana ninguém. Por isso, fala apenas para plateias amestradas, como as Margaridas, no temor de que as panelas voltem a repicar. Amanhã, com as manifestações, teremos a dimensão dos efeitos desses truques antigos.
Se triunfarem, chega de intermediários: João Santana para presidente.
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