Saudade do tempo em que laranja era uma fruta
No Brasil, a morte era a única coisa que ainda não havia sido vulgarizada por completo. Pois acaba de entrar no rol das avacalhações. Convertida em evento paranormal, a eleição municipal de 2016 produz prestações de contas que incluem doadores mortos. “Temos mortos fazendo doação em grande quantidade”, disse o ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Morto que vota era coisa comum. Mas cadáver que doa dinheiro a candidato é algo inédito.
O dinheiro de campanha está no miolo da corrupção política brasileira. Por dois motivos. Um financeiro: a verba suja funciona como anabolizante que torna a disputa desigual. Outro moral: candidato que recebe envelopes por baixo da mesa amarra o futuro de um eventual governo nos interesses de quem o financiou.
O Supremo Tribunal Federal proibiu as doações eleitorais de empresas. Essa proibição vigora pela primeira no pleito deste ano. Com a Lava Jato a pino, os candidatos deveriam fechar o caixa dois, senão por honestidade, ao menos por esperteza. Mas não é o que sucede.
Além dos mortos, há também clientes do Bolsa Família doando recursos para candidatos. Segundo Gilmar Mendes, há miserável doando R$ 68 mil. O Brasil é mesmo um país dinâmico, não para nunca. Está constantemente sendo passado a sujo. É o país do futuro, não há dúvida. Mas às vezes dá uma saudade nostálgica daquele Brasil de outrora, um país onde laranja era apenas uma fruta cítrica.
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