Nos dias de hoje, carnaval não é mais celebração. É simplesmente desculpa para esquecer. Esquecer que não deu certo. Que o país tem se especializado em um atoleiro de coisas ruins, desentendimentos, problemas. Enfim, esquecer que deu zica.
Saímos da irrelevância para a qual caminhávamos em marcha batida. Saída, infelizmente, pela porta errada. Não foi por falta de tempo para prevenir ou resolver o problema. O tal do mosquito é nosso conhecido. Tao conhecido que poderíamos, faz muito tempo, tê-lo controlado. A zica, portanto, não era inevitável. E o zika não precisava se espalhar.
Não vale a pena flexionar o indicador para achar o culpado. Exceto claro, se o indicador estiver apontando para o espelho. A verdade, é que o zika e a zica são resultados da capacidade do cidadão em aturar abusos. Ou seja, da incapacidade de demandar cidadania. Ou o respeito a ela.
É assim que um país inteiro assistiu deitado ou não em berço esplendido, a festival de desastres e injurias. A editoria policial invadindo o noticiário politico. A economia derrete. O emprego mingua. A lama cobre e mata a natureza. E a população sofre com o Zika. E Com a Zica.
Mas ainda bem que a gente se guarda para quando o carnaval chegar. Não é qualquer povo que consegue dançar a beira do precipício. Muitos não teriam coragem para tanta ousadia. É lugar dinâmico. Que não se abala com a calamidade. Que sempre vira a pagina. Frequentemente para trás.
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