Numa reunião realizada em São Paulo, ficou combinado que, ao menor sinal de anormalidade, os integrantes da turma de Temer desocupariam os cargos. Os amigos não ousariam constranger o presidente. O caso que envolve o ministro Geddel Vieira Lima servirá para mostrar até onde vai a fronteira da normalidade no governo Temer.
Comprador de uma unidade assentada no que viria a ser o 23º andar do prédio cuja altura o Iphan encurtou, Geddel reconhece que procurou Calero. Mas nega ter feito pressão. Acha que se comportou dentro da normalidade ao defender junto ao colega da Cultura a revisão do parecer técnico de um órgão público que contraria o seu interesse privado.
“Em 2015, eu fiz uma promessa de compra e venda de uma unidade que estava lançada, sem nenhum problema, com todas as licenças colocadas e que vários outros adquiriram uma unidade de apartamento”, disse Geddel em entrevista.
Calero declarou que Geddel o procurou cinco vezes. Disse ter ouvido perguntas como esta: ''E aí, como é que eu fico nessa história?'' Classificou a abordagem de Geddel de ''truculenta e assertiva''. Relatou a ameaça do amigo de Temer de trocar o comando do Iphan. ''Se for o caso eu falo até com o presidente da República'', teria dito Geddel.
O coordenador político do Planalto sustenta que o relato de Calero contém “inverdades”. Entre elas a acusação de ameaça. De resto, Geddel diz que o fato de ter sido prejudicado pela decisão do Iphan, em vez de tirar, reforça sua “legitimidade” para se meter nos assuntos da pasta Cultura. Fez isso “por conhecer o que estava ocorrendo, estar preocupado, como todo cidadão fica preocupado em uma situação dessa.”
A encrenca do prédio de Salvador já virou processo judicial. Compreende-se que vendedores e compradores de apartamentos avaliados em cifras que roçam a casa dos R$ 3 milhões constituam advogados para guerrear contra a avaliação técnica do Iphan. É do jogo. O que deixa “todo cidadão preocupado” é o fato de um integrante da turma de Temer achar normal a tentativa, ainda que frustrada, de usar o prestígio do cargo público para defender interesse privado.
Retorne-se, por oportuno, ao primeiro parágrafo. É natural que Temer tenha afinidade com sua turma. Se não concordam em tudo, ao menos não discordam no essencial. Resta agora saber qual é a opinião do presidente da República sobre o caso específico.
Dependendo do modo como reagir, Temer pode aproximar seu governo do bom senso ou reforçar a sensação de que também acha natural que a essência de sua turma seja uma ideia qualquer de excepcionalidade que faz dos amigos do poder seres superiores à turma dos sem-turma.
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