Naquele outubro de 1996, no café da manhã antes da gravação,
Francis estava de mau humor. Era normal. Acabava de sair da cama.
Meia hora depois ele estava de bom humor. Era normal. Nossa
conversa na copa antes de gravar era fiada. Francis não falou em Petrobras. No
meio do programa, ele jorrou denúncia e transcrevo a gravação:
Francis: "Os diretores da Petrobras todos põe o
dinheiro lá...(Suíça) tem conta de 60 milhões de dólares..."
Lucas: "Olha que isso vai dar processo..."
Francis: "É...um amigo meu advogado almoçou com um
banqueiro suíço e eles falaram que bom mesmo é brasileiro (…) que coloca 50
milhões de dólares e deixa lá".
Lucas: "Os diretores da Petrobras tem 50 milhões de
dólares?"
Francis: "Ahh é claro... imaginem... roubam...
superfaturamento...é a maior quadrilha que já existiu no Brasil".
Foi além, mas não deu nomes dos diretores. Nem citou fontes.
No próprio programa, o número variou de US$ 50 milhões para 60 milhões.
Preocupado, perguntei se queria que cortasse a denúncia, embora o programa,
depois de gravado, só sofra cortes por tempo. Francis disse que não.
Na imprensa, numa escala de 1 a 10 em repercussão, a
denúncia do Francis mal registrou uns 2 pontinhos. Saíram notas em colunas.
Ninguém cobrou da Petrobras. Não sei por que o Francis nunca levou a denúncia
para os poderosos Globo, Estadão e Jornal da Globo, onde trabalhava, além do
Manhattan Connection, e tinham calibre muito mais grosso do que o GNT.
Seria o poder da Petrobras de silenciar a mídia com sua
publicidade? Ou sua reputação na época estava acima de qualquer suspeita? A
limitada audiência do canal?
Em novembro, Francis anunciou no programa, também sem aviso
prévio, que estava sendo processado pelos diretores da Petrobras, que "queriam
US$ 100 milhões de indenização". Na primeira página da carta de intimação
dos advogados dos diretores aparecem sete nomes, mas não há este número.
Ainda não descobri de onde saiu. Estes valores quase nunca
constam da primeira comunicação entre o processador e o processado.
E pagou sete mil...
Francis entrou num inferno legal. Por sugestão do amigo
Ronald Levinsohn, contratou uma advogada e pagou US$ 7 mil. Quando comentei que
não era muito, o Francis ficou furioso. Disse que eu não sabia das finanças
dele. Até que sabia, porque ele me contava, mas uma só defesa num processo
grande poderia destruir a poupança dele. Se perdesse, ficaria arruinado por
muito menos do que US$ 100 milhões.
Repercussão na imprensa sobre o processo? Mínima. Saíram
notas sobre os assombrosos US$ 100 milhões.
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