Muito choro e ranger de dentes, desesperança e desânimo entre pessoas que apoiam o governo. Li bastante sobre o assunto, declarações favoráveis e desfavoráveis, para embasar a minha opinião na presente tentativa de análise de perdas e ganhos, ainda inicial e sem pretensões de esgotar o tema, que é vasto, complexo e eivado de paixões.
Tentei manter algum distanciamento das áreas nas quais tenho uma história militante: opressão da mulher, opressão racial/étnica e saúde, sobretudo a defesa do SUS – as mais ceifadas, inegavelmente, pela reforma ministerial. Parecia um pesadelo, mas era realidade, e ela se impôs.
A entrega do Ministério da Saúde (de porteira fechada?) a quem nunca deu um prego numa barra de sabão em defesa do SUS, ao contrário, é surreal! Considero fora de propósito e um equívoco ideológico e político a junção da Secretaria da Mulher com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos Humanos, configurando o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que vejo como um ministério mala e, como tal, de pouca serventia, mas ter Nilma Lino como ministra é um alento.
Desanquei o patriarcado, que está vivíssimo e mostrou bem suas garras; o racismo é uma fé bandida e se mostrou de dentes arreganhados; e repeti à exaustão que saúde não é moeda de troca, mas foi, e para mãos não confiáveis! Quer mais? Não vou enumerar tudo para não sangrar mais minhas feridas. Me poupe: “Tire o seu sorriso do caminho/ Que eu quero passar com a minha dor” (“A Flor e o Espinho”, de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Alcides Caminha).
Estou desde sexta-feira passada dando chiliques e pedindo “meus sais”! Maldisse Altamiro Borges, que teve o topete de escrever “Reforma ministerial desanima os golpistas”; maldisse Ricardo Kotscho e seu lúcido “Dilma sai das cordas; oposição apoia Cunha”; e maldisse o editorial do Portal Vermelho, que, com serenidade irritante, diz, sob o título “Reforma ministerial e a nova maioria pelo desenvolvimento”: “A reforma ministerial foi uma importante vitória do governo liderado pela presidente Dilma... Uma reforma da administração e uma recomposição do ministério, dentre outras medidas importantes”.
Um esforço que faço quando estou numa encruzilhada política é ter como guia uma visão panorâmica, no caso a conjuntura brasileira. Para tanto, recorro à metáfora de uma árvore que plantei – ela é minha – numa floresta pegando fogo!
A conjuntura nacional é uma floresta ameaçada pelo fogo, e as minhas áreas de militância são as minhas árvores que estão na floresta ameaçada de virar cinza. Lembrem-se de que, naquela floresta, eu tenho três árvores, a saber: as lutas pelos direitos da mulher, pela igualdade racial e pelo SUS! O que fazer?
É evidente que, se eu desejar preservar tão somente as “minhas árvores”, sem a preocupação de defender toda a floresta, corro o risco de perder as “minhas árvores” e toda a floresta!... De modo que urge que eu tenha honestidade intelectual de ver as “minhas árvores” como parte da floresta que está em chamas.
Maldisse todos que li e que me forçaram a ver a floresta que estava pegando fogo e um incêndio sendo contido. Resta-me o consolo dos versos de Brecht (1898-1956): “Fôssemos infinitos/ Tudo mudaria/ Como somos finitos/ Muito permanece”.
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