quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Cleptocracia

Estou estudando português. Preciso, pois o uso inadequado do tempo verbal, virgulas e palavras podem produzir desastres. Não desejo transmitir informações equivocadas, fruto da forma, distorcendo o conteúdo.

Fui aconselhado a ler, ler muito. Machado, Guimarães, Rubem Braga, me trouxeram mais inspiração e menos transpiração, restando a tristeza de ouvir que alguns políticos se orgulharem de jamais terem lido um livro.

Estava construindo o artigo sobre a CPMF - cachaça, politicagem, maconha e fumo -, quando precisei usar a palavra honesto. Recorri ao Aurélio e lá estava o adjetivo que indica qualidade, defeito, estado ou condição de um substantivo. Como exemplo citava governo honesto, político honesto, ato honesto, podendo ser substituído por correto, probo, digno. No entanto, pensei, haveria exceção para alguns governos, políticos ou a Volkswagen alemão, por ter utilizado um software para fraudar a avaliação dos poluentes de seus carros.

A questão na minha CPMF, indigna, improba e incorreta, era discutir como os poderes deveriam tomar decisões substantivas, na essência; pois nosso país cria leis passageiras, as que pegam e as que são esquecidas, nada substantivas, sem adjetivos ou dando margem a tantas interpretações. Ficando preso na legalidade, esquecendo o princípio da moralidade, o termo honesto vive sendo aplicado como um gerúndio: uma ação em movimento, que ainda não terminou, sempre esperando algo, às vezes uma grande surpresa ou decepção. Por mais que tentasse, não conseguia usar o honesto como substantivo, apesar de seu uso consagrado em nosso meio do tipo: “muito honesto” ou “bastante honesto”.

Precisava explicar que não é a honestidade da justiça curitibana, que está paralisando o país, ao desconsiderar as graduações e sofismas de nossa cultura em relação ao termo. Além disso há a questão da lei aprovada pelo legislativo, aplicada pelo executivo, com os conflitos arbitrados pelo judiciário. Seria simples se no Brasil não se buscasse o equilíbrio entre os três poderes, de forma fantasiosa, na figura de uma balança com três pratos, três pesos e três medidas.

Acabei capitulando na busca de uma construção elegante.

A maioria dos brasileiros sabe o que é honesto, paga 37% de sua renda em impostos e recebe migalhas para educação, saúde e segurança pública. Desconhece o nome do deputado ou senador que votou, passado um ano da eleição, apesar dos custos das campanhas. Mas esse mesmo eleitor é capaz de cantar a nova música de seu cantor eleito, assim como se lembrar dos títulos do seu time de futebol. É raríssimo um eleitor mudar de time de futebol, assim como votar no mesmo político.

Honesto é um adjetivo que falta aos políticos que alegam desconhecer que não existe almoço gratuito e que caixa-dois é crime. Deveriam estar presos, até por “incompetência criminosa”, pois mesmo gastando fortunas em marketing, continuam anônimos, fora do ritmo e jogando contra.

Chega de gastança para manter a cleptocracia.

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