quarta-feira, 1 de junho de 2022

A verdade também apanha

Quando chegou em Pipeiras o delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o instrumento de trabalho:

E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:

— Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.

De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:

— É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para um cadeia de trinta anos um pobre inocente.
E soltou o homem.
José Cândido de Carvalho, "Se eu morrer, telefone para o céu"

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