terça-feira, 26 de janeiro de 2016

As fraudes eleitorais grosseiras do dr. X

Era tempo de cédula de papel, e o grupo dominante, da indústria extrativa, sempre achava solução para rechaçar tentativas de vitória dos trabalhadores.

Dr. X era advogado, muito superficial no direito, mas de muita coragem ao abraçar uma causa, principalmente quase perdida. Fazia jus ao estipêndio que a empresa lhe pagava para demandas trabalhistas e estratégia eleitoral.

Da primeira vez em que os empresários sentiram que o adversário estava forte, convocaram o dr. X, que tranquilizou os patrões.


Sabedor de que uns 200 eleitores iriam sufragar a chapa opositora, chamou-os aos poucos a seu escritório, deu dinheiro a cada um, pediu que deixassem com ele seus títulos de eleitor, para estudo sociológico dessa amostra de votantes. Devolveria os documentos na manhã do dia da eleição. Nesse dia, virou um cisco, sumiu, ninguém dava notícia dele. Seus patrões ganharam a eleição, a lei proibia votar sem o título. Uns 15 dias depois o dr. apareceu na cidade com atestado médico de mal súbito em longínqua cidade.

Na segunda vez, ele estava num carteado com doutores, no fundo de um boteco, quando, beirando a meia-noite, lhe apareceram dois líderes dos empresários, que lhe disseram: “Desta vez, não escaparemos. O pessoal do povoado dos Buenos vai nos ferrar, ficamos sabendo agorinha mesmo, o inimigo vencerá”.

E a ansiedade era tamanha que por pouco arrancavam o homem da cadeira. Pacificou-os e somente pediu que com ele deixassem a Rural em que vieram. E prosseguiu na jogatina. Às 6h45 do dia seguinte, dia da eleição, ele atravessou o carro na estrada que vinha dos Buenos e foi dizendo aos caminhantes, à medida que se aproximavam: podem voltar para casa, o juiz declarou que vocês, daqui dos Buenos, vão votar é amanhã. Houve uma atmosfera de descrença, mas uns cinco eleitores que haviam sido ajudados pela advocacia bandoleira do dr. X convenceram o resto a retornar ao povoado.

Da terceira vez, o caso era mais difícil. O dr. X tinha sido nomeado escrutinador na apuração do pleito, o juiz era novo na comarca.

O alto-falante do fórum ribombava: Plínio Andrade, Carlos Ribeiro, Augusto Pontes e Lima Teixeira. Era o enunciado, fora de ordem, do voto para o candidato a prefeito, a vice, a vereador e a juiz de paz.

No undécimo minuto para terminar a contagem dos votos, faltando apenas três, o placar acusando a vitória dos empresários por um voto, o dr. X engoliu os três restantes, numa acrobacia e rapidez dignas de mágico.

Tudo faz crer que essas fraudes grosseiras merecem fé, a grossura era correlata ao estádio da cultura, da informação ou da desinformação e do desinteresse dos eleitores.

Se hoje um dr. X não poderia agir como o descrito, o dr. Y pode, de maneira refinada, com alguma publicidade, favores bem antes da eleição e hábeis agentes, comprar voto para o candidato, sem levar um “psiu” da polícia. Aliás, o candidato, ele mesmo, é uma fraude edulcorada.

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