Dilma foi barrada no Palácio. A presidente vinha andando pelos salões da sede do governo federal quando um funcionário abriu os braços e impediu a passagem dela. O episódio se deu no momento em que vazava o plano do governo petista de recriar a CPMF. Foi como se o funcionário do Palácio tomasse a frente de um país abobado, prestes a levar calado mais uma facada dos companheiros, e dissesse a Dilma: “Não, minha senhora. CPMF é demais. Daqui a senhora não vai passar”.
A representante legal do maior projeto de pilhagem da História do país ainda respira por aparelhos porque, no quesito aparelhagem, seu partido é bom. Não é para qualquer um ter advogados de estimação na Corte Suprema, nem um procurador-geral da República para chamar de seu. Nas listas de Janot, o petrolão parece um desastre natural, uma nevasca de propinas que se abateu sobre os políticos brasileiros. Olhando, ninguém diz que é um esquema montado pelo estado-maior petista para roubar a Petrobras em favor do partido governante. Sabatinado no Senado, Rodrigo Janot disse que pau que bate em Chico, bate em Francisco. Só não bate em Dilma — porque em mulher sapiens não se bate nem com uma franja.
A presidente já foi citada mais de uma dezena de vezes na Lava-Jato, que produziu uma nevasca de evidências do financiamento eleitoral dela com dinheiro sujo de petróleo. Os tesoureiros petistas, entre delatados, denunciados, condenados e presos, já entraram para o anedotário como a profissão mais perigosa do mundo — anedota que só tem graça para os milionários com estrelinha na lapela. Enquanto o crime de responsabilidade dormita no TCU, com a tropa do cheque pedalando as pedaladas fiscais, o bom entendedor, e também o nem tão bom, já viu que o governo do PT montou um sistema de assalto ao dinheiro do povo — o que talvez explique o seu título de governo popular. E o impeachment, misteriosamente, continua sendo pronunciado como palavrão em convento.
Os companheiros agradecem as boas maneiras, e partem desinibidos para novos saques. E bota desinibição nisso: no momento em que o país entra oficialmente em recessão, com um rombo recorde de R$ 10 bilhões nas contas públicas em julho — joias de uma década de pilhagem —, os oprimidos profissionais tiram da cartola a ressurreição da CPMF. Já que você não quer falar em impeachment, querido contribuinte, vai passar a pagar pixuleco também. Mas não se preocupe: é pixuleco oficial, contabilizado, tudo certinho. Você nem vai precisar apertar a mão do companheiro Vaccari.
Para um governo tão preocupado com o povo, que chega a destruir o setor elétrico para fingir que a conta de luz é barata, recriar a famigerada CPMF é o sinal definitivo do desespero. Estão raspando o tacho. Até Delfim Netto, o oráculo do Lula, resolveu fazer o boletim de ocorrência do desastre financeiro. E note-se que Delfim foi aquele amigo das horas difíceis, sempre com um malabarismo teórico na ponta da língua para dizer que a administração petista ia muito bem, obrigado. Para Delfim Netto, desembarcar do seu doce teatro progressista, o brejo realmente deve ter alcançado a vaca.
Melhor mesmo parar de pensar no PT. Vamos concentrar só no brejo. Mas se você acha, ainda assim, que pagar CPMF para financiar pixuleco é um pouco demais, faça como o chefe do cerimonial do Palácio: tome posição e diga àquela senhora que daqui ela não passa.
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