Os governos criaram as áreas protegidas para que animais e plantas possam viver sem que a ação humana os afete, já que, de outra maneira, acabariam extintos. São lugares especiais, presentes às gerações futuras e para todas as formas de vida não humanas no planeta.
Destruição de um garimpo ilegal de ouro na Amazônia peruana |
Mas de acordo com um estudo publicado na revista Science, quase um terço dessas áreas protegidas (seis milhões de quilômetros quadrados) sofre a pressão do ser humano. Estradas, minas, explorações industriais, fazendas, municípios e cidades: tudo isso ameaça as supostas áreas protegidas.
Está provado que essas atividades humanas são as responsáveis pela diminuição e extinção das espécies em todo o mundo. A nova pesquisa mostra como essas atividades são frequentes dentro das áreas que foram criadas para proteger a natureza.
Foi feita uma estimativa sobre o alcance e a intensidade da pressão humana em áreas protegidas. A análise se baseou no rastro humano, uma medida que combina os dados de acordo com a construção, a agricultura intensiva, as pastagens, a densidade da população, a iluminação noturna, as estradas, as ferrovias e os canais fluviais.
Surpreendentemente, quase três quartos dos países têm, pelo menos, 50% de suas áreas protegidas submetidas a uma intensa pressão humana, ou seja, modificadas pela exploração de minérios, estradas, exploração florestal e agricultura. O problema é mais grave na Europa Ocidental e no sul da Ásia. Somente 42% das áreas protegidas estão livres da ação do homem.
Um rastro gigante
Por todo o planeta encontramos exemplos de enormes infraestruturas que os humanos construíram nos limites das áreas protegidas. Projetos tão importantes como ferrovia entre os Parques Nacionais Tsavo Oriental e Tsavo Ocidental no Quênia fizeram com que o rinoceronte negro se transformasse em uma espécie em perigo de extinção e até a famosa perda das jubas dos leões. A ideia de acrescentar uma estrada de seis pistas ao lado da ferrovia já está em andamento.
Muitas áreas protegidas da América como a Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, e o Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, no Brasil, lutam contra a pressão das cidades próximas que estão densamente povoadas e têm muito turismo. Nos Estados Unidos, tanto o Yosemite como o Yellowstone são afetados pelas complexas infraestruturas turísticas que estão sendo construídas próximas aos seus limites.
Em países desenvolvidos como a Austrália, o panorama é desolador. Um bom exemplo disso é o Parque Nacional de Barrow Island, na Austrália Ocidental, onde mamíferos como o wallaby lebre, o rato canguru, o bandicut dourado e o wallaby das rochas de costas negras estão em perigo de extinção e, entretanto, estão sendo feitos grandes projetos relacionados ao gás e ao petróleo.
Apesar de estarem autorizados pelo Governo, os projetos financiados internacionalmente como os de Tsavo e Barrow são muito comuns. As áreas protegidas enfrentam também o impacto das atividades ilegais. No Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan, em Sumatra, declarado patrimônio da Humanidade pela Unesco, estão em perigo de extinção o tigre de Sumatra, o orangotango e o rinoceronte. Agora, além disso, se transformou no lar de 100.000 pessoas que se instalaram lá e transformaram 15% do parque em plantações de café.
As áreas protegidas respaldam nosso esforço por conservar a natureza. Atualmente, 111 países alcançaram o objetivo global de ter 17% de áreas protegidas, estabelecido pelo Plano Estratégico para Salvaguardar a Biodiversidade das Nações Unidas. Mas, se não levarmos em consideração as supostas áreas protegidas que sofrem a atividade humana, 74 desses 111 países não alcançariam o objetivo. Além disso, a proteção de alguns tipos de habitat mais específicos, como os mangues e as florestas temperadas, se reduziria em 70% se levarmos em consideração a enorme quantidade de áreas que sofrem essa pressão.
Os governos de todo o mundo pedem que suas áreas protegidas preservem a natureza, mas ao mesmo tempo aprovam projetos dentro dos limites dessas áreas e não conseguem realizar a prevenção de danos. Esse é, provavelmente, um dos principais motivos pelos quais a biodiversidade continua diminuindo, apesar do grande aumento das áreas protegidas.
Os resultados não preveem um final feliz, mas oferecem uma visão clara sobe a situação das áreas protegidas no mundo. Se não formos capazes de aliviar a pressão nelas, o destino da natureza estará cada vez mais subordinado a condições de conservação deficientes e pouco eficazes, que estarão sujeitas a debate político e serão difíceis de se aplicar em grande escala. Não podemos nos permitir fracassar.
Sabemos com certeza que as áreas protegidas são eficientes. Bem financiadas, devidamente geridas e corretamente localizadas, são capazes de acabar com as ameaças que provocam a extinção das espécies. Chegou o momento de a população fazer com que os Governos sejam conscientes da importância da conservação global e realizar uma avaliação completa e honesta da situação real das áreas protegidas.
James Watson, James Allan, Kendall Jones, Pablo Negret, Richard Fuller, Sean Maxwell (The Conversation)
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