terça-feira, 1 de agosto de 2017

Na boca do sapo

O presidente Michel Temer está com o nome na boca do sapo. E nos próximos dias será julgado por sapos dos quais até recentemente foi confrade na Câmara dos Deputados.

O sapo tem defesa passiva. Quem pisa sobre ele recebe o veneno que dali só sai espremido pelo agressor.

É um animal anfíbio e vive na terra ou na água, tanto faz. Criatura admirável, mas símbolo de feiura, está presente em muitas expressões populares, a começar pelo título desta coluninha e pelo famoso dito de que às vezes temos de “engolir sapos”.

Há milênios os homens são comparados a animais com o fim de que se possa entender melhor a condição humana a partir da condição dos bichos.

Desde tempos imemoriais, o sapo é tido como catalisador de energias negativas. Não faz mal ao ambiente. O ambiente é que lhe pode fazer mal. O ambiente e a maldade humana, pois muitas pessoas acreditam nos prejuízos que se pode causar a outrem costurando seu nome na boca de um sapo.

O escritor grego Esopo, que viveu entre os séculos VII e VI a.C., foi quem mais falou dos homens ao contar histórias de animais. Como a fábula da cegonha que aceitou o pedido do lobo e enfiou a cabeça na boca da fera para retirar-lhe um osso da garganta. Afinal, o lobo lhe dissera: “Saberei mostrar minha gratidão”.

Quando a ave pernalta concluiu o benefício, perguntou: “Qual será, então, a minha recompensa?”. O lobo respondeu: “Você colocou a cabeça dentro da minha boca e eu não te devorei. Já estás recompensada”. Esopo queria ensinar com suas fábulas, e a lição de vida que deu com esta é não esperar gratidão dos maus.

O sapo é feio, mas é referência solar e personagem de vários poemas e narrativas. Os brasileiros foram acalentados por versos simpáticos e até misericordiosos de Sapo Cururu: “Sapo Cururu/ Na beira do rio/ Quando o sapo grita, maninha/ É porque tem frio”.

A namorada do sapo tampouco é maltratada e pelo que se depreende, se não é bela, é recatada e do lar na canção infantil: “A mulher do sapo,/ Que está lá dentro,/ Está fazendo renda, maninha,/ Para o casamento”.

O poeta Manuel Bandeira aproveitou a figura consuetudinária do sapo para insurgir-se contra os parnasianos, tidos por inimigos dos modernistas: “Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos,/ A luz os deslumbra”.

O grande vate pernambucano até parecia falar de deputados, senadores, ministros e outras figuras públicas, muitas das quais por demais deslumbradas com a luz da mídia de uns tempos para cá.

Que os sapos brasileiros de todos os banhados se entendam porque à la Manuel Bandeira, de novo, segmentos consideráveis da população foram embora para Pasárgada e outros estão prometendo ir: eles querem ser amigos do rei.

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