O que as pessoas de bom senso esperavam de Bolsonaro era que ele aproveitasse o discurso na ONU para desarmar o gatilho ambiental que ameaça o interesse econômico do Brasil. Mas Bolsonaro conseguiu corresponder a 100% das expectativas de quem não esperava que ele dissesse na ONU nada de proveitoso para o interesse nacional. Difícil esperar algo diferente de um discurso que sofreu revisão final de Eduardo Bolsonaro, filho e chanceler de fato; Ernesto Araújo, chanceler de fachada; e Filipe Martins, assessor internacional do Planalto.
Assessorado por essa trupe, Bolsonaro discursou na ONU como se pronunciasse uma das falas que transmite semanalmente aos súditos que o acompanham nas redes sociais —a mesma agressividade, as mesmas obsessões. Depois de contaminar o meio-ambiente, o presidente conseguiu estragar o ambiente inteiro. Seu discurso estava contaminado com pesticida ideológico. O presidente desperdiçou a melhor oportunidade para retirar da sua retórica a raiva que atrapalha os acordos internacionais, afugenta investidores estrangeiros e ameaça a pauta de exportações do agronegócio brasileiro.
Bolsonaro soou paradoxal. No pouco espaço que dedicou às reformas liberais do seu governo, disse que está "abrindo a economia" e integrando o Brasil "às cadeias globais de valor". Mencionou o acordo formado entre Mercosul e a União Europeia. Esqueceu que esse acordo tem cláusulas ambientais que, se desrespeitadas, podem servir de pretexto para anulações. Bolsonaro mencionou a certa altura o combate ao déficit fiscal. Mas ficou entendido que o principal déficit do Brasil no momento está entre as orelhas do seu presidente.
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