segunda-feira, 13 de julho de 2015

A obra parou o trânsito



Vivemos no Brasil um momento de desânimo, tristeza, apreensão.

Não é para menos. Ao assistir aos noticiários, corre-se o risco de uma indigestão de violência, safadeza e criminalidade. Negatividades pequenas, médias, grandes, de tudo acontece. Parece que vivemos um processo de desmonte, de corrosão da ética, da alma que dá vida às relações humanas. Cada vez mais difíceis e áridas.

Os desvios de recursos públicos ofendem quem trabalha e contribuem para que o cidadão, quando imagina o sacrifício que custou ceder 40% de suas suadas rendas ao Estado, pense em largar para trás este país.

Tem razão de se sentir saqueado. Depara-se com gastos públicos desnecessários e ineficientes, molestado pela burocracia. Corrupção e fraudes. O sistema é um caso típico de bipolaridade. De um lado exigem-se todos os sacrifícios e renúncias, de outro aumentam-se despudoradamente os gastos.

Exatamente o contrário do que se verifica numa família em momento de dificuldades, quando se procura economizar, cortar gastos, realizar as economias possíveis e as impossíveis, adiar despesas, os pais cederem o alimento aos filhos mais fracos. Os membros sabem que a palavra de ordem é cortar e manter solidariedade.

Por parte de quem exerce o poder neste país, não se encontra o sentimento que une a família.

Num pacote de medidas duras e cruéis para a população, especialmente para quem trabalha e empreende, neste ano assistiu-se do outro lado ao aumento de 70% dos subsídios dos legisladores federais, o Congresso aprovou outro aumento disparatado para o Judiciário. O fundo partidário, que inunda o caixa dos partidos, aumentou 280%, quer dizer, mais de R$ 500 milhões para compensar perdas do petrolão a que todos estavam acostumados.

Tarifas elétricas, sobre as quais a demagogia fez crer um desconto em 2014, já passam de 110%, os combustíveis, em 40%, água, transportes públicos etc.

Deu-se assim, como era previsível, uma abrupta queda de atividades econômicas, a maior onda de desemprego das últimas décadas, parada geral de investimentos privados. Ficou complicado sobreviver, até porque nota-se que o sacrifício excessivo imposto a quem trabalha se transformou em queda de arrecadação. A nação está sendo asfixiada inutilmente, os setores econômicos, desestruturados e, o que é pior, amedrontados, desesperançados. A confiança nunca esteve tão baixa. Apenas o agronegócio vive sobre as suas pernas e enxerga razões para manter a esperança acesa.

Falta ao governo explicar o plano de metas que não tem, além de um ajuste ortodoxo realizado por marreteiros que estão demolindo o que tem neste país. As lentes grossas de Joaquim Levy, levando a sério as considerações do George Groddeck, mostram que não tem visão apurada de futuro, não enxerga muito além do nariz. São reflexo da personalidade e das limitações interiores.


Se a demolição é rápida, a reconstrução dura anos.

Qualquer plano deve, assim, considerar os efeitos sociais que desencadeia, assim como uma obra pública não pode prejudicar a vida de milhões de pessoas durante seu prazo de execução. Se, para consertar uma praça, é necessário prever um plano de “convivência” com os transtornos ao trânsito, e minorá-los ao estritamente indispensável, um plano econômico não pode arrasar a estrutura econômica do país ou tirar-lhe o oxigênio indispensável.

A queda de arrecadação comprova que os aumentos de impostos saíram pela culatra. Que a dose administrada foi excessiva e que o paciente deixou a estabilidade de seus sinais vitais para cair numa acentuada complicação e em depressão.

A situação anda de rédeas soltas ladeira abaixo, e o cocheiro acreditando que um surto de progresso mundial venha a socorrer a estagflação, que algum santo se lembre do Brasil.

A recuperação das atividades econômicas não se dá por acaso, precisa de planos, de disciplina e de ação. Quando seria mais fácil, com um pingo de austeridade, evitar o esgarçamento das contas públicas, nada se fez; agora se faz demais. A dosagem sempre parece errada.

A crise vem se aprofundando e poderá ficar incontrolável.

Dilma, mais que com os movimentos do Congresso Nacional, deve-se preocupar com a população, que sofre sob as lâminas de Joaquim Levy.

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