Recebo e-mail de um grande amigo que me faz a pergunta
título deste artigo, já que, segundo ele, tenho conseguido fazer razoáveis
diagnósticos sobre a crise no país. Respondo: não sei.
De meu ângulo, às vezes privilegiado para saber das coisas,
já que passo a maior parte do meu tempo em Brasília, às vezes é terrível,
porque boatos é que não faltam. Posso afirmar que não consigo enxergar um palmo
adiante do meu nariz. Só sei que a situação é gravíssima e pode ainda piorar.
Alguns têm falado em impeachment da presidente. Consulto a
Constituição Federal, e meu desânimo só aumenta: na linha de sucessão se
encontram Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski. A
meu ver, um time para levar qualquer seleção a uma fragorosa derrota. Conheço
de perto dois deles e sei de que estou falando. Os outros tenho acompanhado em
suas iniciativas na Câmara e no Supremo. Não tenho por que nutrir qualquer
esperança de melhoria.
Em relação à vacância sucessiva de presidente e vice (por
renúncia, morte ou suspensão de direitos políticos), o sucessor, na ordem
indicada, chamará novas eleições no prazo de 90 dias após a vacância definitiva
(a do antigo vice) nos dois primeiros anos do mandato e nos dois últimos a
eleição será pelo Congresso Nacional.
Certamente, repudio veementemente os que fazem apelo às
Forças Armadas. Aliás, só para recordar, passei os melhores anos de minha vida,
dos 20 aos 41 anos, sob o tacão da ditadura – isso supondo que esta tenha
terminado em 1985 e não venha se prolongando em vários aspectos por meio da
malfadada “transição pactuada”, inventada por gente como Tancredo Neves. Não
preciso mais para não querer nada disso.
O atual Congresso Nacional, com suas bancadas da bala, do
agronegócio, dos evangélicos, dos parentes e de reacionários de toda espécie,
também não me autoriza a ter esperança de que venha alguma proposta minimamente
articulada. Faz dó ver como parecem baratas tontas antigos partidos de gente
séria, mesmo à direita.
Se as elites econômicas brasileiras são extremamente
predatórias, as elites políticas são macunaímicas, e mesmo o que andam fazendo
ao mandar Dilma “praqui” e “prali”, inaugurando creches e pontes, com seu novo
visual mais enxuto (pelo regime que anda fazendo), os caciques que vêm se
reunindo com as bancadas do PT e do PMDB não resolvem nada, a não ser
ressuscitar mortos-vivos, como Sarney, convidado para o jantar no palácio de
Temer com a presença de Lula.
E, para terminar: afinal, quem está governando? Joaquim
Levy? Ou seria Lula? Por que não sai a malfadada lista dos políticos da Lava
Jato ou dos donos de contas no exterior via HSBC? Ainda por cima, dizem que o
procurador geral da República, Rodrigo Janot, está sendo ameaçado de morte.
Afinal, nem custa perguntar: por que Joaquim Barbosa se aposentou tão cedo? E
por que Dilma não o substitui?
Ao amigo que me escreveu só posso mandar estas mal traçadas
linhas. Nada sei sobre o que vai acontecer conosco. Só sei é que nisso é que dá
inventar um “poste”, batizá-lo de “grande gestora” e vender o peixe aos
incautos.
Ai, que inveja do Uruguai e do Vaticano!
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