A presidente poderia se manter assim até o fim do novo mandato, ninguém ligaria, como aconteceu recentemente na Bélgica, que passou vários anos sem ter primeiro-ministro, não entrou em crise econômica ou ética, seguiu se desenvolvendo, uma maravilha. Mas acontece que aqui no Brasil as coisas estão bem diferentes e Dilma Rousseff tem muito mais problemas do que a simpática e educada rainha Fabíola.
Neste início de mandato, as investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato já estão encontrando cada vez mais provas sobre gravíssimos atos de corrupção em outros setores do governo, como a construção de hidrelétricas e ferrovias. E na fila, aguardando apuração, estão os fundos de pensão, o BNDES, a Eletrobrás e outras estatais, além do chamado Sistema S e de muitos ministérios.
Na verdade, é um nunca-acabar de escândalos, que não atingem apenas o Executivo, pois a opinião pública está consciente de que Legislativo e Judiciários também estão apodrecidos. Embora o país esteja mergulhado numa gravíssima crise econômica, os salários das autoridades dos Três Poderes estão cada vez mais altos, com inaceitáveis mordomias, incluindo os cartões corporativos, cujos gastos são mantidos sob sigilo absoluto, vejam a que ponto essa gente chega.
Não há governo capaz de resistir a tamanho bombardeio. É ilusão achar que Dilma Rousseff possa acabar incólume como Lula, simplesmente repetindo que não sabia de nada.
A situação se complica ainda mais, porque ninguém consegue apoiar Dilma Rousseff, nem mesmo o ex-presidente Lula, que a conduziu ao poder. Na semana passada, o grupo majoritário do PT divulgou um manifesto de críticas ao governo federal, com ponderações compartilhadas por todas as demais alas do partido.
As centrais sindicais também já desembarcaram do governo. Durante evento organizado pelos movimentos sociais na última terça-feira, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, criticou os tarifaços de luz, da água e dos combustíveis, além das propostas do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy.
No Congresso, não existe mais base aliada desde o início de fevereiro, quando o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) instituiu o primado regimental dos blocos partidários e assumiu pessoalmente o comando do principal deles, formado por 227 deputados, deixando o PT completamente isolado.
Por fim, é sempre bom lembrar que nunca antes, na História deste país, um governo conseguiu se preservar no poder sem contar com apoio da maioria dos parlamentares. O resto é folclore.
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