Por ocasião do 57º aniversário do golpe militar no Brasil, a organização, fundada por acadêmicos e jornalistas investigativos e sediada em Washington, publicou em seu site 12 arquivos antes secretos, que mostram "o esforço do regime brasileiro para subverter a democracia e apoiar a ditadura no Chile".
Presos no Estádio Nacional, em Santiago, a prisão do golpe de Pinochet |
Entre esses textos está um telegrama enviado em março de 1971 pelo então embaixador do Chile no Brasil, Raúl Rettig, ao Ministério das Relações Exteriores do seu país, com o alarmante título: "Forças Armadas brasileiras possivelmente realizando estudos sobre guerrilheiros sendo introduzidos no Chile".
Várias fontes haviam informado a delegação diplomática que o regime militar brasileiro estaria avaliando como instigar uma insurreição para derrubar o governo de Allende. Segundo o telegrama, classificado na época como "estritamente confidencial", também foi revelada a existência de uma sala de operações no Brasil com mapas da Cordilheira dos Andes, para planejar como se infiltrar.
Em sua mensagem, Rettig prossegue: "As Forças Armadas brasileiras aparentemente enviaram ao Chile vários agentes secretos, que teriam entrado no país como turistas, com a intenção de obter mais informações sobre as possíveis regiões em que um movimento guerrilheiro poderia operar."
O embaixador ressalta que ainda não havia uma data para o início desse "movimento armado". Entretanto os diplomatas chilenos no Brasil estavam sob vigilância, e um deles escutara de um colega brasileiro que a República Andina era agora vista como "mais um país atrás da Cortina de Ferro".
O centro americano também cita o livro "O Brasil contra a democracia: A ditadura, ou golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul", do jornalista investigativo Roberto Simon, recém-publicado pela editora Companhia das Letras.
A obra reúne arquivos do Brasil, Chile e Estados Unidos, expondo o papel do regime militar brasileiro no golpe de 11 de setembro de 1973, que permitiu ao general Pinochet chegar ao poder, assim como a contribuição do país na repressão no Chile.
Simon destaca que "o Brasil deu apoio direto a um modelo para a ditadura de Pinochet", e que a imagem do regime militar de Brasília como "marionete de Washington" é "um mito, relegando o país a um mero papel subsidiário na região". Na verdade "a ditadura brasileira tinha suas próprias motivações estratégicas, ideológicas, econômicas e de outro tipo para intervir no Chile".
O jornalista brasileiro destaca que os militares do país estabeleceram canais de comunicação com os chilenos opositores de Allende, e que agentes enviados por Brasília tinham vínculos com o grupo paramilitar chileno de extrema direita Patria y Libertad.
Um memorando contido no livro retrata o encontro de dezembro de 1971 entre os presidentes Richard Nixon e general Emílio Garrastazu Médici, na Casa Branca, em que os dois comentam os esforços para derrubar Allende.
O então líder da ditadura brasileira achava que o mandatário chileno deveria ser deposto "pelos mesmos motivos que [João] Goulart [presidente de 1961 a 1964] foi deposto no Brasil", e deixa claro que seu país se empenhava nesse sentido. A derrubada do governo Goulart, nos primeiros dias de abril de 1964, selou o início da ditadura militar que vigorou no país até 1985.
Por sua vez, o mandatário americano frisou a importância de os dois países trabalharem juntos "nesse âmbito" e ofereceu "ajuda discreta" às operações brasileiras contra o governo Allende.
Entre os documentos divulgados, está ainda um relatório da CIA sobre reuniões entre oficiais militares brasileiros, em que um deles diz crer que "os EUA obviamente querem que o Brasil 'faça o trabalho sujo' na América do Sul".
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