sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Lambuzados e otários

Não é estranho que alguns dias depois de ter dito que “o PT se lambuzou” o ministro Jacques Wagner apareça lambuzado em novas investigações da Operação Lava Jato?

Na verdade, nada parece estranho no modo petista de habitar ambientes subterrâneos de poder, e de construir ligações perigosas com todos os tipos imagináveis de heterodoxia no trato com a coisa pública.

Charge Super 05/01

A fala de Wagner, que segundo a versão luvas de pelica com que a imprensa trata as relações de poder, causou “mal estar” entre governo e PT, pretendia, no fundo, ser uma autocrítica higienizada do partido, mas como o que fica no imaginário popular são as palavras mais fortes, o ministro chefe da Casa Civil acabou puxando uma descarga mais barulhenta do que ele imaginava.

E explicação que Jacques Wagner desenvolveu para explicar o “lambuzado" é de uma inocência angelical. Na verdade, ele atravessou o samba e saiu do ritmo:

“O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo de Lula. Aí não mudou os métodos do exercício da política. Ficou usando as ferramentas que já eram usadas, do financiamento privado (para campanhas eleitorais). O resultado é que o PT, que não foi treinado para isso, (encarnou o ditado) “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.



Subestimar a inteligência alheia e tratar as pessoas como se elas tivessem dificuldades de discernimento é um dos maiores pecados da histórica soberba do PT. Somos otários, Jacques Wagner? Não, não somos.

O PT montou esquemas de assalto aos cofres da Petrobras (com a parceria dedicada do PMDB e do PP) por falta de reforma política? O mensalão e o petrolão existiram porque “o PT não foi treinado para isso”? (Imaginem a catástrofe que seria se o partido fosse treinado para isso…). A quem Jacques Wagner acha que está enganando?

Para azar do ministro-chefe da Casa Civil, o que ficou de sua narrativa fantasiosa foi só o high-light da manchete: o PT se lambuzou. O resto da digressão se perdeu na poeira das palavras ao vento.

Por isso ele foi repreendido por um petista mais cosmopolita, mais escolado do que o baiano em questões de uso cauteloso da linguagem. Tarso Genro, que passa por reformista e eterno candidato a “refundador” do partido, já escolado na tergiversação desde o asilo concedido ao terrorista e assassino italiano César Battisti, condenado em seu país por participação em quatro homicídios, puxou-lhe as orelhas:

“A declaração de Wagner foi profundamente infeliz e desrespeitosa, porque generaliza e não contextualiza. Ele faz coro com o antipetismo raivoso que anda em moda na direita e na extrema direita no País. Com a responsabilidade que ele tem, deveria ser menos metafórico e mais politizado em suas declarações".

A terceirização da culpa é outra das características do DNA petista. Atrás de qualquer fracasso, há sempre um culpado em quem descarregar a ira. E esse culpado nunca está entre eles.

Será difícil ao tergiversador Tarso Genro encontrar qualquer traço de direitismo, extremo ou não, nas palavras do professor Eugenio Bucci, petista histórico do tempo em que acreditava estar nadando em águas limpas. Ele escreveu no final de seu artigo desta semana, no Estadão:

“Por que a corrupção, que antes seria uma intercorrência, ganhou o estatuto de método? Como a corrupção submeteu o partido aos ditames do capital selvagem? Se querem mesmo falar de política, é disso que o PT e a presidente precisam falar. Mas eles não podem. Têm medo do inferno. E ardem”.

Tarso Genro pediria menos metáfora e mais politização?

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