Há três anos, quando o então senador Romero Jucá defendeu a costura de um pacto para "estancar a sangria" sua voz soou como ruído desesperado de alguém que não sabia que estava sendo gravado. Ao afirmar que o pacto deveria incluir o "Supremo", Jucá, notório personagem do MDB, parecia ecoar o apavoramento de investigados em apuros, incluindo os ex-sócios do PT. A sangria evoluiu para uma hemorragia na qual Bolsonaro surfou.
Agora, suprema ironia, Bolsonaro tenta atingir um sonho que nem os profissionais do MDB e do PT conseguiram realizar —o sonho de controlar os órgãos de controle. Ele já desossou o ex-Coaf, retirou um procurador-geral do bolso do colete, cavalga a Polícia Federal e está prestes a instalar barricadas na Receita Federal. Ainda que consiga colocar em pé uma operação "Abafa a Jato", Bolsonaro não conseguirá eliminar os fatos:
Para citar apenas os fatos mais desagradáveis, há a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do faz-tudo Fabrício Queiroz; os R$ 24 mil repassados à primeira-dama Michelle Bolsonaro; o empréstimo de R$ 40 mil que Jair Bolsonaro diz ter feito ao Queiroz; os assessores do gabinete do primogênito Flávio Bolsonaro gotejando parte dos salários na conta tóxica de Queiroz; os depósitos fracionados, em dinheiro vivo, feitos pelo Zero Um.
Há em Brasília um déficit estético que transforma Bolsonaro numa espécie de São Jorge que abandonou o plano de salvar a donzela para casar com o dragão.
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