Poderíamos até estabelecer um plebiscito diário, no qual o povo decidiria todas as manhãs se quer que o governante permaneça no cargo ou vá embora. O filho do presidente disse uma besteira? Rua com ele! Essa saída pode parecer tentadora em algumas ocasiões, mas não é preciso PhD em ciência política para perceber que o ultrademocratismo perpétuo não funcionaria bem.
Algum grau de formalismo é necessário. Ganha a eleição o candidato que obtém mais votos depositados em urna na data do pleito, não o sujeito que apareceu algum dia à frente nas pesquisas.
Foi para preservar a democracia, isto é, a decisão soberana do povo expressa numa consulta formal feita em 2016, que os britânicos levaram em frente as negociações do brexit, pouco importando que a separação da União Europeia seja objetivamente desastrosa para a economia e que, se a votação fosse refeita hoje, provavelmente determinaria a permanência no bloco.
Nas últimas semanas, porém, as dificuldades para o divórcio levaram a um impasse político que está produzindo danos à democracia —que incluem a suspensão do Parlamento, por definição a voz do povo— numa escala maior do que reconvocação do plebiscito. Por paradoxal que pareça, preservar a democracia está minando a democracia.
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