Apesar de alguns plásticos já existirem no início do século XX, a produção em massa não começou até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando deixou de ser algo quase reservado para os militares. Fruto de reações químicas (polimerização) de compostos orgânicos obtidos em sua maioria do petróleo, o plástico é uma das grandes criações da humanidade. Depois do aço e do cimento, é o produto de origem não natural mais presente na civilização. Mas suas virtudes o transformam em problema quando seu ciclo de vida útil termina.
“A maioria dos plásticos não é biodegradável, portanto os resíduos plásticos que estamos gerando nos acompanharão por séculos e até milênios”, diz a pesquisadora da Universidade da Geórgia, Jenna Jambeck. Em 2015, Jambeck e um grupo de colegas estimava que todo ano chegavam aos mares do planeta cerca de oito toneladas de plásticos. Agora, com colegas da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e a Associação para a Educação Marina (SEA), Jambeck foi além, calculando quanto plástico geraram os humanos em sua curta história e onde tudo isso foi parar.
A pesquisa, publicada na revista Science Advances, começa no ano 1950, quando o número de dois milhões de toneladas de plástico produzidas foi ultrapassado. Em 2015, últimos dados disponíveis, essa quantidade aumentou para 380 milhões de toneladas. Acumulados todos esses anos, os humanos criaram 8,3 bilhões de toneladas. A maior parte são resinas à base de monômeros como o etileno e o propileno. Cerca de 2 bilhões de toneladas são fibras, destacando o poliéster, o acrílico e as poliamidas sintéticas. Os 500 milhões restantes são aditivos para dar as características desejadas a cada produto feito de plástico.
Apesar de parecer que a consciência ambiental e o surgimento de novos materiais estavam deixando o plástico para trás, os dados dizem exatamente o contrário: a metade dos plásticos produzidos desde 1950 foram fabricados na última década. Outro dado revelado pelo estudo é a nova geopolítica do plástico. No início, tanto sua produção como seu uso eram algo quase exclusivo dos Estados Unidos, aos quais aos poucos se uniriam os países europeus. Hoje, no entanto, apesar de os dois continuarem sendo os principais consumidores de plástico, o maior produtor é a China. As fábricas chinesas produzem um terço de todas as resinas e quase 70% das fibras.
O estudo também analisa onde tanto plástico foi parar. Todo ano entram novos plásticos no circuito e os velhos saem. Isso faz com que haja em uso cerca de 2,5 bilhões de toneladas, a maioria na construção, onde são usados materiais plásticos de longa vida. O restante – bolsas, roupas, embalagens – em sua maioria acaba no lixo e, em médio e longo prazo, nas terras e mares do planeta.
Nos anos oitenta começou-se a reciclar o plástico. Mas não parece ter funcionado. Apenas 9% dos resíduos plásticos são reciclados. Além disso, os plásticos reciclados, que não têm a qualidade dos originais, poucas vezes são reciclados pela terceira ou quarta vez. Então a reciclagem só atrasa sua chegada ao lixão. Outros 12% de lixo plástico são eliminados pela incineração. Apesar de a quantidade de plásticos decompostos por pirólise (mais eficiente e ecológica) estar aumentando, a grande maioria desses plásticos são queimados sem mais. Por região geográfica, europeus (30%) e chineses (25%) são os que mais reciclam e também os que mais queimam, 40% e 30%, respectivamente. No outro extremo estão os Estados Unidos. Com um índice de incineração de 16%, reciclam apenas 9% do plástico que usam. Os outros 75% são jogados fora e pronto.
“Há regiões em que o plástico é indispensável, especialmente nos produtos feitos para durar”, comenta a pesquisadora do SEA e coautora do estudo, Kara Lavender. “Mas acho que precisamos refletir sobre nosso uso amplo dos plásticos e nos perguntar quando usar esses materiais faz ou não sentido”, acrescenta. Sem essa reflexão, a projeção feita pelos pesquisadores é a de que, em 2050, os humanos terão produzido mais de 34.000 toneladas de plástico e pelo menos um terço acabará no lixão ou pior ainda.
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