A situação do país está cada vez pior, mas os políticos e as autoridades dos três Poderes se comportam como se estivessem na Ilha da Fantasia ou na Terra do Nunca Jamais. Não há empenho em buscar alternativas para vencer a crise, é como se tudo fosse se resolver naturalmente, talvez por osmose, como se dizia antigamente. A omissão e a inércia são impressionantes, como se houvesse possibilidade de retomar o desenvolvimento do país mediante a teoria do laisser-faire, a versão mais pura e simplificada do capitalismo, em que o mercado deve funcionar livremente, sem interferência, apenas com regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade. Bem, sonhar ainda não é proibido.
Mas é justamente isso que está acontecendo. A única e exclusiva preocupação do governo atual é se manter no poder, a qualquer preço. Não tem nenhum programa administrativo, não planeja minimamente a gestão, nada, nada. Dedica-se apenas a tramar incessantemente para evitar o impeachment ou a cassação pela Justiça Federal. Para tanto, vale qualquer acordo, não há a menor preocupação com a ética.
O presidente do Senado segue na mesma levada. Conseguiu eleger o filho para governar Alagoas, transformou o estado num feudo, agora somente se empenha em atender ao governo federal, na esperança de que o inquérito sobre seu envolvimento do esquema da Petrobras caminhe devagar, devagarinho, no ritmo do genial Martinho da Vila.
Na Câmara, seu presidente tentou agir com independência e enfrentar o governo, mas se deu mal. A resposta foi um inquérito que caminha em velocidade supersônica, coisa jamais vista na política. Nas contas dele, pela 15ª sexta-feira seguida a Procuradoria-Geral da República municia a imprensa com denúncias contra ele, a mulher e a filha
. Sua imagem está destruída, mesmo assim ele sonha em manter não somente o mandato, mas também o cargo de presidente da Câmara.
E no Supremo, está tudo dominado, como se diz atualmente. O presidente do tribunal é da inteira confiança dos governantes, já demonstrou ser especialista em reativar recursos infringentes extintos e em aceitar a existência de quadrilhas que funcionam sem chefes, a boa vontade é total.
Enquanto os políticos e as autoridades criam este mundo à parte, uma espécie de “Meu Brasil Brasileiro” particular, a economia nacional mergulha numa fase crítica. Todos os Estados entraram em recessão, exceto o Pará, que este ano conseguirá uma façanha – a estagnação. Os indicadores são sinistros, os empresários meteram o pé no freio, até as multinacionais decidiram reduzir seus quadros, agravando o desemprego. A arrecadação despenca, consequentemente não há recursos para investimentos, o governo não admite nem discutir cortes nas despesas de custeio, a dívida pública aumenta incessantemente, caminha-se para um impasse e para a bancarrota.
Em 1992, na campanha presidencial dos EUA, o consultor James Carville, então assessor da campanha de Bill Clinton, criou a frase “É a economia, estúpido!”. O candidato favorito era o presidente republicano Gorge Bus pai, que acabara de triunfar na Guerra do Golfo. Mas o consultor Carville percebeu que os eleitores estavam mais preocupados com a crise econômica do que com a investida contra o Iraque de Saddam Russein. E Clinton venceu.
Não estamos em ano eleitoral, mas alguém precisa imediatamente ocupar a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e instalar placas gigantescas que possam ser vista de todos os lados, com a frase “É a economia, estúpidos!”.
Talvez assim os políticos e as autoridades despertassem desse sonho imbecil e resolvessem agir para solucionar a crise nacional. Mas isso parece irreal, porque eles não querem acordar para encarar a realidade.
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