Agora que o financiamento empresarial de campanha está proibido, as empresas têm a chance de provar que investiam desinteressadamente nas eleições. Uma prova seria investir os R$ 5 bilhões em outros benefícios coletivos que não poderão mais ser gastos, a cada quatro anos, em campanhas eleitorais, o que se equivale a R$ 1,25 bilhão por ano. Por exemplo, as empresas poderiam provar o amor ao Brasil doando recursos para o plantio de árvores.
Por outro lado, na época das chuvas muitos rios transbordam e alagam cidades. Isso ocorre porque sem a proteção da floresta parte do solo é levado para o leito do rio, deixando-o mais raso. E a água da chuva corre mais rapidamente para os rios quando o solo está nu. Com as árvores, a água escorreria mais lentamente e uma parte se infiltraria no solo em vez de escorrer pela superfície.
Nos morros das cidades, a falta de floresta leva a deslizamentos de terras que matam e desalojam pessoas; geralmente as mais pobres que moram em lugares proibidos ou inadequados.
Em suma, a população do campo e das cidades se beneficiaria com o reflorestamento.
Considerando R$ 1,25 bilhão por ano, seria possível custear um terço do custo total anual estimado para o Brasil atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030* Essa meta foi estabelecida pelo Brasil como parte do plano de reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global. O Instituto Escolhas estimou que seriam necessários R$ 3,7 bilhões por ano para custear o reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030.
Infelizmente, o plantio espontâneo ou obrigatório de árvores tem ficado muito aquém do que o necessário e pode continuar assim se depender dos políticos financiados pelos empresários no passado recente.
Parte do reflorestamento que deveria ocorrer em áreas desmatadas ilegalmente deixou de ser obrigatório, pois os políticos anistiaram parte destes crimes ao mudarem o Código Florestal em 2012. Além disso, o prazo para o início do reflorestamento de áreas desmatadas ilegalmente tem sido adiado pelos mesmos políticos – em específico, eles têm adiado o prazo para o Cadastro Ambiental Rural, que é o primeiro passo para a regularização ambiental. Acresça-se, nem o Congresso e nem o Executivo destinaram recursos do orçamento para apoiar os pequenos proprietários a reflorestarem suas áreas, conforme autoriza o Código Florestal.
Quanto seria possível plantar com o recurso que deixará de ser investido pelas empresas em financiamento de campanhas eleitorais? Considerando R$ 1,25 bilhão por ano, seria possível custear um terço do custo total anual estimado para o Brasil atingir a meta de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030*. Mesmo supondo que as empresas só estivessem dispostas a investir metade do que investiram na última eleição (equivalente a R$ 625 milhões por ano), ainda seria um volume expressivo e suficiente para consolidar uma indústria do reflorestamento de espécies nativas que será necessária para o reflorestamento em larga escala no país. Essa indústria envolve desde a coleta de sementes, preparação de mudas, plantio e manutenção das áreas plantadas.
Investir em reflorestamento também beneficiaria diretamente os setores de algumas das empresas que financiaram eleições. Por exemplo, a JBS, a maior empresa de processamento de carne do mundo foi a maior financiadora de campanha em 2014 (R$ 350 milhões). Este valor anualizado seria suficiente para reflorestar quase 20 mil hectares por ano nas fazendas que são suas fornecedoras.
Finalmente, o financiamento do plantio de árvores resultaria em um ganho de reputação para as empresas muito maior do que financiar políticos.
Quais empresas estão dispostas a provar o seu amor pelo Brasil?
Paulo Barreto
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