O inferno de ser Dilma Rousseff
Se um sujeito comum já se cansa de ser si próprio a vida toda; se já considera um peso ter de enfrentar todo dia o mesmo passado, a rotina, as mesmas limitações determinadas pela personalidade; se já se delicia com a imagem de encarnar um John Malkovich por pelo menos alguns minutos, então imagine uma presidente rejeitada. Deve ser um fardo insuportável ser Dilma todos os dias. Ter de levantar da cama de manhã, olhar no espelho e pensar “ah, não, que droga, acordei de novo como Dilma Rousseff”.
Pessoas comuns desfrutam o luxo de errar em segredo – só algum parente, um amigo ou talvez só elas próprias sabem de suas tolices; aos poucos o tempo se incumbe de editar os trechos vergonhosos da biografia. Já Dilma passará o resto da vida em julgamento, evitando festas ou passeios para que os outros não a lembrem de sua culpa, lendo em cada rosto a mensagem “Dilma, Dilma, não se esqueça, você é a Dilma, a Dilma que errou e teimou em errar, a Dilma arrogante que esculhambou o país”.
Eu não aguentaria. Tentaria uma vida anônima na Tasmânia, faria uma cirurgia para mudar de rosto. Ou – uma saída mais simples – tentaria convencer os outros de que virei outra pessoa. Como os criminosos que viram evangélicos na cadeia, admitiria os erros, renegaria o passado, diria a todos que vivia iludido mas agora encontrei a verdade.
É isto que resta a Dilma: criar uma narrativa para livrar-se de si própria.
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