Não é democrático discriminar qualquer profissão, inclusive os palhaços – mas, com voto distrital, um palhaço só conseguiria candidatura, e só se elegeria, se fizesse muito mais que apenas palhaçadas, como o Tiririca, que diz não saber o que um deputado faz.
Na Inglaterra – que não tem horário eleitoral gratuito – os candidatos tem de ganhar voto em incontáveis reuniões com eleitores de seu distrito. Para faltar a uma sessão no Parlamento, um deputado trabalhista tem de pedir autorização a seu líder, que só consente se outro deputado de outro partido também faltar.
Aqui, os deputados faltam quando e quanto querem, e cada um emprega mais assessores que o primeiro-ministro da Inglaterra.
A palavra “candidatos” vem da Roma Antiga, quando os que queriam ser senadores saíam às ruas vestidos de branco (a cor “cândida”, da pureza e da inocência…). Assim simbolizavam que não tinham manchas no caráter e na vida, eram imaculados. A lei da ficha limpa é a versão atual disso.
O cerco está apertando tanto, com tantas exigências de transparência e fiscalização pelo eleitorado consciente (ainda minoria no entanto), que é bem capaz que logo-logo (daqui a umas décadas) os candidatos passem a ser na maioria honestos.
Gente é a única espécie, neste planeta, cujo destino é melhorar. Eleições já foram bem piores.
Lembro do dia dos baldes. Jânio Quadros foi candidato a deputado pelo Paraná em 1958, e eu, com nove anos, vi a rua ficar coberta por grossa camada de santinhos dele, despejados de baldes por caminhonetas. Bitucas de cigarro provocaram vários incêndios, que os moradores apagavam com baldes de água.
Postes, muros, ruas, paredes, estradas, tudo era emporcalhado por pichações e cartazes até começo da década passada! Um dia, meu filho Jerônimo, menino, perguntou:
- Pai, se eles querem governar, por que fazem tanta bagunça?
No tempo das células eleitorais de papel, lembro de um escrutinador eleitoral vangloriar-se de “arranjar” até centenas de votos para seus candidatos, apenas “votando” nas células em branco com uma canetinha curta que escondia na mão. Nós éramos do velho PMDB resistente à ditadura, e falei que aquilo era errado, ele disse que não:
- Contra a ditadura, vale tudo.
Retruquei que, assim, trocaríamos a ditadura por uma republiqueta. Depois, acabada a ditadura, ele continuava com sua canetinha, a “arranjar” votos para candidatos que lhe molhavam a mão esperta… Mas a urna eletrônica acabou com isso.
Até pouco mais de um século, mulheres não podiam votar, e houve um tempo em que só ricos podiam votar!
Embora ainda vivamos num tempo em que os ingênuos e desocupados cultuam ditaduras de esquerda, a democracia parece ser o caminho para melhorar, desde que melhorem as eleições e a política.
Tiririca não é o pior que podia acontecer. Pior é desacreditar e desistir de acreditar e melhorar porque muitos ingênuos se deixam enganar por um palhaço. Ou como diria o caboclo:
- Não é porque o padre é ruim que vou deixar de ter fé!
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