Para Temer, seu governo enfrenta “dificuldades naturais em um processo de desenvolvimento sustentado.” Mas tudo continua bem porque “temos um projeto” reformista. Nenhuma palavra franca e direta sobre o caminhonaço que transtorna o país há nove dias. O orador não pronunciou palavras como “caminhão” ou “pararalisação”. Sobre a encrenca que monopoliza o noticiário, fez apenas referências indiretas e autoelogios. Temer é o negociador mais habilidoso que Temer já conheceu
Temer teve a oportunidade de dialogar com os caminhoneiros e o baronato do setor de transporte de cargas. Desde outubro de 2017, negligenciou três avisos que chegaram ao Planalto por escrito. Deu-se, então, o bloqueio sem precedentes de estradas, num movimento que sequestrou a paz dos brasileiros. Zonzo, Temer pagou o resgate com um pacote 100% feito de déficit público.
Embora esteja imprensado contra a parede, o presidente acha que é protagonista de um processo de negociação. Com a credibilidade rente ao piso, ele se considera um portento. Para Temer, o único problema existente no país é a cegueira alheia: “Alguns confundem —quero dizer isso em letras garrafais— a vocação para o diálogo com eventual leniência política ou fraqueza política. Na verdade, é o contrário. O diálogo é a essência da boa política e da democracia, é, aliás, a sua fortaleza.”
O problema de políticos habituados a operar com a meia-verdade é que, nos momentos mais críticos, eles privilegiam sempre a metade que é mentirosa. Quando não sabe o que dizer, Temer recorre à empulhação. O truque perdeu a serventia. O inquilino do Planalto deveria firmar consigo mesmo um pacto básico: o de não dizer asneiras. O silêncio não resolve o problema. Mas evita que a plateia fique chocada com a constatação de que o presidente da República desligou-se perigosamente da realidade.
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