segunda-feira, 27 de junho de 2016

Recesso de ideias

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Esse é um dos dramas que vive o presidente interino Michel Temer diante da permanente escolha a que se acha obrigado para decidir sobre caminhos a tomar e, assim, impulsionar o crescimento, retomar o emprego, equilibrar o balanço fiscal e tornar a produção nacional competitiva na disputa dos mercados interno e externo pela exportação de nossas commodities e dos nossos manufaturados. Obviamente, tudo sem ressuscitar a inflação.

Essa é uma parte de sua rotina diária, nos sete dias da semana. Outros momentos ele gasta tentando construir apoio na Câmara e no Senado, sem se esquecer de que o TSE se mantém aberto, em plantão de 24 horas, de todos os dias, dando boas-vindas às tão desejadas provas que suportarão (ou não) a cassação da chapa Dilma/Temer, eleita em 2014. Nada invejável, mesmo sabendo-se que Michel Temer, como vice, acordou todos os dias dos últimos anos com a esperança de se sentar na cadeira de Dilma, definitivamente.


Esperou, operou para tal, mas nunca imaginou que o aguardava esse cipoal de dificuldades que se tornou o governo da República. Temer, como vice-presidente e dono do PMDB, reforçou todos os dias a importância do seu partido na aprovação das medidas que interessaram o governo Dilma; acostumou sua base ao jogo do dá-lá-toma-cá, que seu partido pratica como nenhum outro; liderou à distância as opções do PMDB; desprezou o restante dos demais partidos sempre que a equação se fechava somente com os votos do PT e do próprio PMDB. Mas agora, na cadeira e com a caneta, a história se revelou bem outra.

O PT não o apoia, o PMDB se mostra dividido em acampamentos com bandeiras pró-Renan, Jucá, Requião, Sarney (pasmem) e até Eduardo Cunha (ainda solto); aquele grupo, que se habituou chamar de oposição, segue hibernado, sem nada produzir, nada propor, nada oferecer. Está na muda, por estratégia, especialmente no momento em que vêm se destampando na imprensa delações que atingem no peito nomes identificados como fortes líderes dessa facção. Ninguém sobra. A cena política transformou-se em uma grande arca de Noé: se tem bicho na proa, tem também no convés.

Literalmente, seguimos à deriva, assistindo o esforço que se faz para verter a atenção da sociedade para as revelações de delatores donos de segredos e detalhes que poucos conheciam. Uma semana se gastou para saber o que pensava Tia Eron sobre se Eduardo Cunha é ou não dono de uma mixaria depositada na Suíça para custear compras de sua esposa. São temas importantes, mas diversionistas, e os problemas nacionais seguem pressionando.

Não dormem os juros cobrados pelos bancos, a criminalidade que se amplia por falta de políticas de segurança dos governos, da mesma forma que seguem precários os serviços de saúde, a educação, a oferta de habitação. A cassação de Cunha, Tia Eron chegou e resolveu. Diante da inércia em que vivemos, quem se habilita a indicar caminhos?

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