domingo, 9 de agosto de 2015

Dilma, legítima e insustentável

Dilma Rousseff está coberta de razão quanto à legitimidade de seu mandato. É absolutamente legítimo. Assim como, goste-se ou não, são legítimos os mandatos dos parlamentares, incluindo os do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A presidente parece ou prefere não entender que o cerne da crise não é legitimidade, mas credibilidade. Ou melhor, a falta dela.

Charge O Tempo 08/08

Por obedecer aos ritos da legalidade, também são legítimos os movimentos daqueles que discutem vias constitucionais de impedimento da presidente ou que, diante da possibilidade de que a vitória nas urnas tenha sido fruto de campanha financiada com dinheiro sujo, questionam a validade do resultado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ações legítimas, mas de crédito duvidoso, já que contaminadas pelo beneficio direto que proporcionariam aos seus autores. No caso, o PSDB.

Vocábulos sonoramente semelhantes, legitimidade e credibilidade em muito se diferem, embora devessem ser complementares. Normalmente, alguém legitimamente eleito tem créditos suficientes para fazer até o inimaginável. Fernando Collor de Mello conseguiu confiscar o dinheiro dos brasileiros com apoio do Congresso Nacional.

Itamar Franco - que legitimamente assumiu a Presidência depois da renúncia-impeachment de Collor - e Fernando Henrique Cardoso gozaram de credibilidade e, consequentemente, razoáveis condições de governabilidade.

Lula, o maior líder popular da história recente, soube como ninguém acumular créditos. Poderia usufruir deles agora não tivesse cedido à tentação de dominar tudo e todos por métodos que mais tarde se descobririam criminosos.

Ao inaugurar o presidencialismo de coalizão sustentado pelo toma-lá-dá-cá de cargos e dinheiro vivo, Lula manteve-se popular, mas corroeu sua credibilidade.

Dilma seguiu na mesma trilha no primeiro mandato. Conseguiu não só ficar em pé, mas se reeleger, ainda que à custa de mentiras e, sabe-se lá, recursos de campanha surrupiados da Petrobras e de outras empresas públicas, conforme delações já feitas no curso da operação Lava-Jato.

O Mensalão e a Lava-Jato - operações de indiscutível legitimidade, mas tidas pelo PT como golpistas – criaram imensas dificuldades ao presidencialismo de coalizão. Com verbas minguadas, a fantástica maioria congressual forjada pela garantia de mesada começou a se desintegrar. Primeiro, lentamente, agora, em velocidade estonteante.

Já no início do seu legítimo segundo mandato, Dilma teve de lançar mão de seus derradeiros créditos. Viu-se forçada a fazer um ajuste fiscal com o qual não concordava e nomear um ministro da Fazenda que não queria. Traiu, uma a uma, as premissas que a elegeram.

Rejeitada pela maioria esmagadora do país – 71% reprovam o seu governo, segundo o Datafolha -, a presidente não reúne condições de arregimentar tropas para vencer as crises econômica, política e moral que afundam o país.

A legitimidade de Dilma hoje lembra a dos contos de réis ou dos cruzeiros e cruzados velhos e novos. Notas legítimas que perderam o valor de face e tiveram de ser substituídas.

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