quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Que porra é essa, Bolsonaro?

Que porra é essa, Bolsonaro? Logo você, um cara que se anunciava tão preocupado com o que entra nas orelhas da família, usar um palavreado de esquina, uma porra de palavra que parecia própria apenas dessa cultura esquerdopata que você tinha vindo para acabar e em seguida substituir com os bons propósitos do Deus acima de tudo!


O que Deus, pobre senhor de barbas brancas, encarapitado em sua nuvem de algodão doce, um bom sujeito tantas vezes evocado como uma síntese da pureza de propósitos de seu governo, o que ele vai achar dessa porra toda de ter um presidente da república, trepado num banquinho em frente ao palácio, distribuindo o palavrão a torto e a direito, sem filtro, nas orelhas da velhinhas, das crianças e dessas novas senhoras enroladas no véu verde e amarelo da anunciada purificação nacional?

Que porra é essa, Bolsonaro, de apenas alguns meses depois de substituir um presidente que governava na base de mesóclises, um delírio igualmente estapafúrdio diante da realidade brasileira, usar como palavra de ordem um vitupério de cinco letras que ninguém diz em rede nacional antes das 23 horas? Não faz muito tempo, um menino que dissesse isso em casa, num canto escondido dela, era levado pela orelha até o banheiro e ali o pai severo lhe limparia a boca com água e sabão.

O Brasil já teve vários tipos de grosseria federal proferidas da mesma cadeira. Já teve presidente que preferia o cheiro dos cavalos ao do povo, outro se orgulhava daquilo roxo, todos nivelados pela lamentável baixaria da falta de educação. Não é um país de muita sorte, mas o palavreado procurava se esconder dentro de um certo decoro parlamentar tropicalista. Encher a boca e usar "porra" para expressar uma ideia de governar o meio ambiente é um acontecimento inédito na república. O Brasil virou um palavrão.

O porra do Bolsonaro não é uma peça de teatro de denúncia, um Bacurau do cinema, um rap do Emicida ou um conto do João Antonio, esses momentos em que pela representação artística é justificável se valer de todas as palavras para que a realidade, geralmente a dos desvalidos de escolas, dos premidos pela infelicidade social, se faça entendível. O porra, em pleno palácio, foge a qualquer expectativa de bons princípios de civilidade e norte ao país. Está fora da ordem nacional. Para não deixar qualquer dúvida, é usado no discurso para adjetivar a árvore - e, como se sabe, o nome do país tem origem numa delas. É a porra do Brasil.

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