A desfaçatez com que PC Farias —precursor de Delúbio e Vaccari— comercializava sua influência no governo e dividia propinas com o presidente e seu grupo político pareciam ótimas oportunidades para o país tomar jeito. Mas deu tudo errado. Um escândalo produziu outro, e outro, e mais outro… Até desaguar no mar de lama do mensalão. Que escorreu para o oceano do petrolão. Que se misturou à ruína econômica no caldeirão em que arde o mandato de Dilma. Decorridos 24 anos, o país se depara com o segundo processo de impeachment de sua história e com a pergunta de Gleisi Hoffmann: Quem tem moral…?
Durante o governo Sarney, Lula chamava-o de “ladrão”. Golpeado por Collor abaixo da linha da cintura na campanha presidencial de 1989, Lula pegou em lanças pelo impeachment. Nessa época, o tratamento mais cortês que Collor mereceu de Lula e de todo o petismo foi o de “corrupto''. Que dizer dos insultos que o PT e seu morubixaba trocaram com Maluf? De repente, os ex-moralistas associaram-se a todos os imorais num mesmo empreendimento governamental. E anunciaram à nação: “Somos todos aliados! Somos uns a cara esculpida e escarrada dos outros.”
Antes de borrifar perguntas na atmosfera seca do plenário do Senado, Gleisi Hoffmann precisaria fornecer respostas: depois que fizeram tanto esforço para se tornar iguais, como podem supor que ainda é possível distinguir uns dos outros? Não eram todos aliados até ontem? Não foi sob o poder petista que Cunha, Collor, Renan, Sarney, Jucá, Barbalho e tantos outros plantaram bananeira dentro dos cofres da Petrobras e do setor elétrico?
Dilma, Lula e o PT chegaram à condição atual por seus próprios deméritos. Por três mandatos, abasteceram a coligação governista de propinas. O mensalão mal havia secado e já existia o petrolão. Deflagrada sob Dilma, a Lava Jato emparedou corruptos e corruptores. Pela primeira vez, a oligarquia foi para o xadrez. A corrupção passou a dar cadeia. Interrompido o provimento regular de dinheiro sujo, aliados foram se convertendo em traidores.
Até bem pouco, Dilma enxergava o Senado como sua última trincheira. Renan Calheiros era o heroi da resistência. Hoje, madame não consegue juntar 28 votos para salvar o mandato. O petismo é picado pelas serpentes que o poder petista financiou. Num ambiente assim, tão conspurcado, a companheira Gleisi renderia homenagens à lógica se evitasse questionar a moral alheia.
Gleisi faria um bem a si mesma se pelo menos adiasse suas reprimendas para depois do encerramento do processo em que seu marido, Paulo Bernardo, é acusado de tomar parte de um esquema que assaltou aposentados e servidores pendurados no empréstimo consignado. A senadora terá muito mais moral depois que ficar comprovado que seu marido não participou de tamanha imoralidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário