Jogando com um baralho viciado para assar a pizza, a Petrobras e as empreiteiras estão flertando com a ruína
Primeiro a má notícia: desde 2008, o valor de mercado da
Petrobras caiu de R$ 737 bilhões para R$ 114 bilhões. Virou pó uma quantia
equivalente a todos os investimentos previstos para a área de infraestrutura do
Brasil no segundo mandato da doutora Dilma. Agora, a péssima: a sangria vai
continuar. Investidores internacionais fogem do papel da empresa e o
contubérnio em que ela vivia com seus fornecedores abalou também as contas das
grandes empreiteiras nacionais. A Petrobras nunca mais será a mesma e pode-se
supor que alguns de seus grandes fornecedores nacionais deixarão de existir.
Desde o início do ano, quando apareceram as primeiras pontas
do escândalo, todos acreditavam que podiam assar a pizza jogando com um baralho
viciado. Essa crença foi resumida numa breve anotação de um diretor da Engevix.
Certo de que ninguém teria coragem de se meter com as empreiteiras, ele
escreveu: “Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o
país.” Errou e seu vice-presidente está na cadeia. O procurador-geral Rodrigo
Janot e o ministro Teori Zavascki sabem quais decisões devem tomar. A
formulação da Engevix embute a ideia segundo a qual grandes empresas não correm
o risco de ter diretores na cadeia. É o too big to jail, uma variante do
conhecido too big to fail. Grandes corporações não podem quebrar (fail) nem
seus diretores acabar na cadeia (jail).
A fé na pizza teve sua razão de ser. A defesa das empresas
apanhadas no cartel ferroviário que agia em São Paulo conseguiu empurrar o caso
com a barriga por mais de dez anos. A Siemens, que denunciou a quadrilha da
qual fazia parte, chegou a ser ameaçada de processo pelo governo paulista. Bola
fora, pois a Siemens brasileira denunciou o cartel seguindo uma norma de
moralidade adotada por sua matriz alemã.
Até agora, a equipe do Ministério Público que cuida do caso
da Petrobras mostrou-se mais qualificada que as empresas. Se isso fosse pouco,
a investigação já tem três pontas no exterior. Uma na Holanda, outra na Suíça e
a terceira nos Estados Unidos. Essa foi a que pegou a Siemens, levando-a a se
tornar um padrão de nova conduta. O baralho viciado perdeu a eficácia. A
regulamentação da lei que trata da moralidade empresarial está na Casa Civil há
seis meses. Também não adianta.
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