sábado, 28 de fevereiro de 2015

Versos e reversos

Quem resiste à realidade passa a vida berrando sem poder mudá-la ou influenciá-la
Corre um boato aqui onde eu moro que nenhum dos nossos males traz novidade. Que o sofrimento marcado no rosto do povo nada tem nada novo. Diz que a gente mastiga, desde sempre, a injustiça e iniquidade sem memória ou aprendizado.

Que a gente aceita, mais do que poderia sem nem mesmo considerar se deveria. Que a gente não aprende nem a lembrar de nem a esquecer. Que a gente parece povo destinado a repetir, em círculos, o percurso do desastre.



Amigo meu que envelheceu lutando, diz que esquecendo e não vendo, até daria para ser feliz. Que quem resiste à realidade passa a vida berrando sem poder muda-la ou influenciá-la. Que se o que não tem remédio, remediado fica. Que enxergar, é somente procurar ser infeliz.

Por isso parece que a gente sempre abraça a repetição da história. Sempre uma farsa. Frequentemente como tragédia. Nunca como memoria. Em destino sem jeito. Em luta sempre desprovida de vitória.

E a gente segue cometendo os mesmos erros. Acreditando nas mesmas ilusões. Sem novidade. Com as ideias envelhecidas apodrecendo comprometendo o futuro e piorando o presente. Sem projeto ou objetivos.

Contemplando deserto cuja travessia parece eterna. Onde a areia cobre sem muita preocupação de esconder, um cemitério sem fim de oportunidades perdidas. Envoltos em silêncio que não vem do respeito, mas da ausência de ideias.

E é assim, que no verso e no reverso da vida inteirinha, a gente mata o futuro, corrói a esperança. Acolhe, acomoda e incentiva a mediocridade. Abraça a ignorância. E transforma sonhos em arrependimentos.

Elton Simões

Nenhum comentário:

Postar um comentário