Beijando ditador
O recente triunfo da Beija-Flor ilustra bem esta visão seletiva, e a seletiva falsificação da realidade. Assistindo ao desfile da Beija-Flor, há quem só tenha visto a riqueza dos trajes, as cores das plumas, a profusão de máscaras africanas, a ala dos ancestrais celebrando as tradições de um pequeno país africano. Porém, olhando melhor, não há como não ver o cinto do caubói. No caso, o rosto crispado de um dos mais terríveis e corruptos ditadores do nosso tempo: Teodoro Obiang.
“O dinheiro não tem cor” — argumentam alguns: “o importante é que a festa foi bonita.”
Errado. Uma coisa é aceitar apoio financeiro de Cabo Verde, Botswana ou Namíbia, para citar apenas três países africanos com democracias sólidas, outra é vender a alma ao diabo. Obiang está comprando consciências. O ditador da Guiné-Equatorial já conseguiu que o seu regime fosse aceito na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, generosa ideia do embaixador José Aparecido de Oliveira, entretanto muito aviltada. Agora quer mais. Hoje paga a festa, amanhã irá cobrar.
“Posso convidá-lo para jantá-lo?” — pergunta o lobo ao cordeiro. E o cordeiro vai.Leia mais o artigo de José Eduardo Agualusa
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