domingo, 1 de maio de 2016

PT nunca liderou a esquerda no Brasil

Numa entrevista a Mônica Bergamo, Folha de São Paulo, edição de segunda-feira, o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que o PT vai sobreviver à tempestade que atinge o governo Dilma Rousseff, mas pode deixar de ser o partido hegemônico da esquerda brasileira. Haddad cometeu, a meu ver, um duplo equívoco: o Partido dos Trabalhadores era uma legenda de oposição, mas nunca, a rigor, foi de esquerda. Principalmente porque a esquerda deixou de existir no campo ideológico fundamental.

A esquerda, na Europa, era um marco divisor entre capital e trabalho. No Brasil, não. Os partidos podiam se considerar esquerdistas. Mas no fundo não se empenhavam para mudar a dualidade. Queriam, isso sim, os fatos comprovam, substituir os capitalistas, chegando a seu universo de prazeres e posicionamentos. Não se propunham, aliás jamais se propuseram, a melhorar efetivamente a distribuição de renda. Lutavam para obter a renda para si, o que é muito diferente.

Quadros partidários do PT, a Operação Lava Jato comprova, formaram uma aliança com as grandes empreiteiras, como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Sob a sombra de tal coligação, concretamente assaltaram a Petrobrás e abalaram, não só o governo conquistado nas ruas e nas urnas, mas a própria economia nacional.

Com a lista de propinas atribuída à Odebrecht, por exemplo, a empresa transformou-se numa legenda suprapartidária. Onde está a esquerda? Em lugar algum.

Ao invés de se esforçar para suavizar, pelo menos isso, a diminuição do Produto Interno Bruto, o PT compactuou, esta sua maior contradição, com uma ainda maior concentração de renda. Tanto assim que o trabalho perdeu sua capacidade de consumo – portanto, sua presença na distribuição dos pedaços do bolo.

O PT passou a se basear no antigo princípio sinuoso: o capitalismo para si, o socialismo para os outros. No Brasil, o que na realidade traduz a ideia socialista? O desejo de reforma, não a manutenção do panorama. Trata-se no fundo, de fazer simplesmente com que os salários não percam para a inflação, pois neste caso estarão sendo reduzidos.

Nada mais do que isso é necessário para sustentar os níveis de consumo e assegurar o crescimento da produção e, por conseguinte, a comercialização.

Sem salário digno, não pode haver saneamento, moradia, saúde e educação, uma vez separadas as obrigações inerentes ao poder público, em todas as suas escalas, e os legítimos interesses particulares. Ao contrário de tudo isso, o que ocorreu ao longo dos governos Lula e Dilma Rousseff foi a expansão de um conservadorismo ultrapassado, que não admite transferir um centésimo de seus ganhos à valorização do trabalho, em nosso país representado por 100 milhões de homens e mulheres que formam a mão de obra ativa.

O salário médio brasileiro, de acordo como IBGE, flutua em torno de 2 mil e 400 reais, mês. 1/3 dos trabalhadores ganham apenas o salário mínimo. Cinquenta por cento percebem de 1 a 3 mínimos. Onde está a tão falada redistribuição de renda? Uma fantasia eleitoral destinada somente a renovar esperanças perdidas nas nuvens do tempo.

Ser de esquerda no Brasil é tão somente sonhar com uma política reformista que, sem sensibilizar o lucro do capital, evite o empobrecimento progressivo de 204 milhões de brasileiros. O PT, alguma vez, lutou concretamente por isso? Jamais. De sua ideia original, acabou unindo-se às forças, nem sempre honestas, do capitalismo.

O PT nunca foi de esquerda. Iludiu com a posição ao governo FHC com o impulso reformista de fato. Seu fracasso de agora expõe sua farsa de ontem.

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