sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O naufrágio da confiança

A agência de classificação de risco Moody’s, a última a ter concedido o grau de investimento ao Brasil, em setembro de 2009, se tornou, na quarta-feira, a última a retirar do Brasil o selo de bom pagador. E o fez de forma drástica, fazendo a nota brasileira recuar dois degraus de uma vez só, e ainda por cima mantendo a perspectiva negativa, indicando que novos rebaixamentos podem ocorrer no futuro próximo. Se a reação do mercado financeiro não foi explosiva, isso se deve ao fato de uma decisão como essa já estar “precificada” (como se diz no jargão econômico) há algum tempo. Além disso, desde o ano passado o país já tinha perdido o grau de investimento na avaliação das outras duas grandes agências, a Fitch e a Standard and Poor’s.

Mas esse caráter tardio não significa que a decisão da Moody’s deve ser desprezada ou ignorada. É importante analisar o que aconteceu com a economia nacional no intervalo entre dezembro do ano passado, quando a Fitch foi a segunda agência a tirar do Brasil o grau de investimento, e agora. Esses dois meses foram os primeiros com a Fazenda sob o comando de Nelson Barbosa, um dos defensores da gastança desenfreada que ajudou a colocar o país na situação atual. Nesse tempo, a única ação do governo foi associar intimamente o sucesso do ajuste fiscal à aprovação da CPMF: sem o novo imposto o Brasil viveria o apocalipse, a julgar pelos discursos de ministros e até da presidente Dilma Rousseff. Tudo isso sem nenhum esforço autêntico de corte de gastos na inchada máquina pública.

Os rebaixamentos são alertas aos quais o governo não tem dado ouvidos

Na nota em que justifica a decisão, a Moody’s diz que o país vive “perspectiva de deterioração adicional dos indicadores de dívida do Brasil em um ambiente de baixo crescimento, com a dívida provavelmente excedendo 80% do PIB nos próximos três anos” – uma porcentagem perigosíssima, já que a dívida brasileira é contraída a juros altos, enquanto outros países com relação dívida/PIB muito maior, como Estados Unidos e Japão, pagam juros baixíssimos e conseguem honrar seus compromissos sem dificuldade. Para um país como o Brasil, dívida em crescimento disparado com PIB em queda é uma combinação insustentável no médio e longo prazo.

Some-se a esse cenário a tolerância governamental com déficits primários. Depois do rombo de R$ 111 bilhões em 2015, quase 2% do PIB (para se ter uma ideia do tamanho do fracasso, no início do ano passado a meta era de superávit primário de 1,1% do PIB em 2015), o ministro Nelson Barbosa lançou a ideia de uma “banda de flutuação” para o superávit, que poderia inclusive prever novos resultados negativos sem problema algum, em caso de arrecadação menor que a prevista no ano. Além disso, o Banco Central também tem sua credibilidade questionada depois da decisão de manter a Selic nos atuais 14,25% ao ano – não tanto pela taxa em si (pois até mesmo alguns economistas ditos ortodoxos já questionam a eficácia de juros ainda maiores em um cenário de recessão), mas pelas circunstâncias que a rondaram, como a incomum nota do presidente do BC, Alexandre Tombini, na véspera do anúncio da manutenção dos juros, e seu encontro com Dilma Rousseff dias antes da reunião do Copom – o governo tem interesse direto no fim do ciclo de aperto monetário, e o PT é crítico contumaz da elevação dos juros.

Infelizmente não há nada no horizonte que permita prever uma reversão deste quadro no futuro próximo. O controle da inflação, a julgar pelas decisões recentes, acabará sendo feito via desemprego, o que significa dias ainda mais sombrios para os brasileiros. Sem nenhuma disposição para o corte de gastos e sem apoio no Congresso e entre a população para elevar a carga tributária, a única saída do governo será endividar-se ainda mais. Os rebaixamentos são alertas; Dilma, Barbosa e os demais responsáveis pela crise não podem dizer que não sabiam de nada – o fato de não terem dado ouvidos aos avisos só aumenta sua culpa.

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