É cada vez maior o número de pessoas, em todas as faixas etárias, que não têm perspectivas profissionais. E mesmo quem está empregado sofre os efeitos da crise, pela diminuição do poder aquisitivo do salário – corroído pela inflação dos últimos anos – ou pela aflição com a possibilidade de perda do trabalho. A crise faz com que os sonhos e projetos – pessoais, familiares ou profissionais – sejam adiados, à espera de dias melhores.
Não se trata apenas – como se isso já não fosse doloroso o suficiente – de viver as agruras do presente. A crise torna a população mais vulnerável perante os riscos inevitáveis do futuro. Não é pequena, por exemplo, a quantidade de famílias que, sem condições econômicas, precisaram abandonar o plano de saúde complementar e agora contam apenas com o serviço público de saúde, com suas conhecidas deficiências.
Não é fácil enumerar e mensurar todos os efeitos da crise. Muitos deles serão notados em toda a sua extensão apenas daqui a vários anos. Basta pensar, por exemplo, nos jovens que estão saindo do ensino médio. Muitos deles se veem, por causa da recessão, sem condições econômicas de continuar sua formação acadêmica e precisam buscar de imediato um trabalho – que, na maior parte das vezes, não existe. A interrupção do estudo afeta todo o horizonte vital desses jovens. Não se trata apenas de deixar de consumir determinados produtos nos próximos meses ou trocá-los por mais baratos – a crise afeta de forma decisiva a vida de toda uma geração.
O desamparo da população diante da crise social deve estimular a atuação responsável de todo o governo – Executivo, Legislativo e Judiciário. O poder público não pode dar as costas à população, como se o drama social não lhe dissesse respeito. É nessas horas de necessidade e aflição que o serviço público deve mostrar para que existe: para servir ao público.
A preocupação governamental com a crise social que o País atravessa pode se revelar por meio de várias maneiras práticas. O Executivo não pode, por exemplo, ser tíbio na condução da política econômica e fiscal. Também não pode se omitir na condução das reformas estruturais tão necessárias para recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento econômico. Se titubear, prolongará desnecessariamente os sofrimentos da Nação. Nesse sentido, a crise impõe que o governo concentre todas as energias no que é prioritário, deixando de lado o que é acessório. A crise deve ser, portanto, um estímulo à eficiência.
Mas a crise social não é um tema apenas do Executivo. Ela afeta diretamente os outros Poderes. É o momento de o Legislativo bloquear todas as investidas corporativas por mais privilégios, especialmente as pretensões de aumentos salariais. É também ocasião para trabalhar com diligência aqueles projetos de maior relevância pública, que podem aliviar a crise. Muitos desses projetos não são propriamente populares, mas isso não pode fazer hesitar os representantes do povo que tenham verdadeiro espírito público. É nessa hora que devem tomar a frente, na defesa do interesse nacional e do futuro do País.
O Poder Judiciário deve ser também esteio nessa hora de crise. Em primeiro lugar, sendo um remanso de institucionalidade, bloqueando soluções mágicas, fora da lei ou eivadas de um excessivo protagonismo. Deve ser também exemplo de trabalho e de diligência. É imperiosa, nesse sentido, a continuidade do combate à corrupção, em todas as suas esferas e sempre dentro da lei.
Ao exigir que todos exerçam com responsabilidade suas funções e habilidades para que os momentos de aflição sejam mais prontamente superados, a crise expõe a miséria e a grandeza dos homens que lideram a Nação. Se tiverem valor, o País sairá dessa quadra turva mais forte e saudável do que antes. É o que veremos no correr do ano que se inicia.
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