Caos. É esse o tempo que vivemos. Presidente do Senado ignorando ordem judicial, salário de servidor parcelado a perder de vista, deputados votando interesses próprios na madrugada, ex-governador preso, PEC congelando por 20 anos os gastos públicos, incluindo a Saúde, e Leda Nagle demitida. Inacreditável Futebol Clube do Brasil!
No meio disso tudo, há gente que tem câncer. Doença devastadora, na qual o tempo significa uma chance de viver, como diversos pacientes tratados pelo SUS, que frequentemente têm suas medicações de quimioterapia interrompidas sob alegação de falta de remédio. Como desgraça pouca é bobagem, alguns hospitais, como o HCIII do Inca, também têm sofrido com aparelhos de mamografia quebrados.
Na prática, isso significa, primeiro, que o direito humano e universal à vida está negligenciado. Segundo, que se os aparelhos existentes dessem conta do recado, como afirma o hospital neste caso, o aparelho quebrado deveria estar consertado e em pleno uso para a população. Afinal, isso é dinheiro público.
Lógico que a denúncia feita a partir de usuários é sempre negada pelas direções, como se paciente inventasse interrupção de tratamento para “tirar férias” da doença.
Já é uma via-crúcis, não desejada para ninguém, o tempo de nove meses entre suspeita e diagnóstico de câncer de mama, conforme a pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Laço Rosa em maio. Iniciar o tratamento, então, é outra peleja que ultrapassa a lei dos 60 dias, garantidos pela Constituição.
Então, quando o cidadão consegue sobreviver à maratona Sisreg (o sistema de regulação) e, enfim, começa o tratamento, alguém em algum departamento não faz o pedido do remédio e tcharannnnn: interrupção de ciclo!
O único detalhe é que essa doença não dá trégua, não tira férias e nem espera o jogo de empurra para saber de quem é a culpa. Segue crescendo. A chance, que muitas vezes já chega diminuta na mão dos médicos, cai ladeira abaixo a cada interrupção.
Gestores, públicos e privados, são responsáveis por gerir o fluxo que garante uma chance à vida. É deles a responsabilidade de não deixar faltar o remédio, ainda que o acesso à medicação tenha esferas políticas muito além da boa vontade e da compaixão humana.
Não é a primeira vez que hospitais são denunciados por suspensão de quimioterapia. Quem paga a conta? Quem é responsabilizado por isso? Quem devolve ao paciente a chance que perdeu no instante em que alguém não fez o seu trabalho de pedir, liberar e entregar o remédio?
Provavelmente, Deus, porque nunca vi um ser humano, além do paciente, pagar por isso. E o mais revoltante é a postura “País das Maravilhas” adotada pelos hospitais, como se a resposta à imprensa convencesse alguém além da Carochinha.
Enquanto isso, cabe a nós, seres humanos desprovidos de interesses, agir por meio da denúncia, da fiscalização, da indignação e da empatia, porque uma hora pode ser que nós ou alguém que amamos esteja na outra ponta, precisando de uma voz para gritar pelo fim dessa sentença imposta pelos mais fortes, na qual a lei que vale é a do “salve-se quem puder”.
Marcelle Medeiros
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