O ministro Wang Anshi (1021/1086), na China imperial, apesar
de reformador, ganhou popularidade como o “Ministro Cabeçudo”, considerado que
era de incapaz de aceitar bons conselhos e se recusar a admitir erros. Se
implantou instituições de socorro popular, hospitais, dispensários, cemitérios públicos,
baseando-se num modelo de fundações caritativas criadas pelos mosteiros
budistas, ficou mesmo conhecido como o homem dos três não vale a pena: “Não
vale a pena temer a ira divina, não vale a pena respeitar a opinião pública e
não vale a pena conservar as tradições”.
Segundo Lin Yutang (1895/1976), escritor chinês muito
conhecido no Ocidente, em “O sábio jovial”, o ministro tinha muita semelhança
com certos administradores públicos de hoje. Wang Anshi não tolerava oposição de
nenhuma espécie, viesse de amigos ou de adversários. Com grande capacidade de
persuasão, sabia como fascinar o imperador com a ideia de um Estado forte e
estava decidido a lutar por suas teorias sociais mesmo com “o esmagamento de
toda oposição e em particular com a anulação da censura imperial, cujo primeiro
dever era fazer a crítica da orientação política e da maneira pela qual se
conduziam os negócios públicos”.
A grande curiosidade do relato de Yutang sobre o ancestral
ministro é a semelhança com que hoje qualquer um pode esbarrar virando uma
esquina brasileira. Wang Anshi se considerava um reformador e todo aquele de
quem não gostava era um “reacionário”. “Acusava todos que o criticavam de
pretenderem malevolamente dificultar as reformas”. O ministro até mesmo chegou
a ser apontado de tentar fechar a boca do povo, “amordaçar toda a liberdade de
crítica ao governo”. Parece longe a história do ministro cabeçudo chinês, mas há
nela muita coincidência com certos governantes de hoje no Brasil.
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