terça-feira, 29 de março de 2016

Supremo abandona Dilma e mostra que impeachment não é golpe

A presidente Dilma Rousseff tinha a esperança de que o Supremo Tribunal Federal pudesse reverter a decisão do Congresso, caso a Câmara e o Senado aprovassem o impeachment. Chegou a declarar várias vezes que tomaria a iniciativa de recorrer ao STF e até determinou que a Advocacia-Geral da União, agora comandada pelo ministro José Eduardo Dutra, redigisse a petição a ser encaminhada. Mas foi apenas um sonho, em meio ao interminável pesadelo que ela enfrenta desde que iniciou seu segundo mandato.

Com toda certeza, Dilma já sabe que vencer a eleição foi uma vitória inútil e desgastante. Se tivesse perdido, seria lembrada como a primeira mulher a assumir a Presidência. Mas agora ela está destinada a entrar na História do Brasil como a primeira presidente a sofrer impeachment, em meio a um tsunami de corrupção, que relegou ao esquecimento o mar de lama que injustamente se atribuiu a Getúlio Vargas nos idos de 1954.

Neste ponto, temos de mais uma vez tirar o chapéu ao juiz federal Sérgio Moro. Foi sua atuação corajosa que conscientizou os ministros do Supremo sobre o equívoco de tentar socorrer este governo incompetente e apodrecido.

As coisas até que iam bem no Supremo, a presidente da República contava com a solidariedade da grande maioria dos ministros. Na última votação de uma causa vital para Dilma – o julgamento do rito do impeachment – o resultado tinha sido consagrador, com 9 votos a 2, apenas os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli se posicionaram contra os interesses dela, porque o novato Edson Fachin medrou e reviu seu posicionamento anterior.

Mas tudo mudou com a delação premiada do senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo, denunciando que Dilma tentara libertar o empresário Marcelo Odebrecht através do Superior Tribunal de Justiça. Logo depois, surgiu as gravações de Lula dizendo que o Supremo se acovardara e mandando pressionar a ministra Rosa Weber, vejam a que ponto chega a prepotência dele.

Com a deserção do PMDB e do PTB, o impeachment se tornou inevitável, porque os demais partidos da base aliada estão seguindo atrás. E a última esperança – o recurso ao Supremo – também já se desfez, e a situação se mostra sinistra para Dilma. Quatro ministros já tinham declarado publicamente que impeachment não é golpe – Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Celso de Mello. Apenas um ministro, Marco Aurélio Mello, se manifestara contra o impeachment. Por coincidência, recentemente foi agraciado pela presidente Dilma com a nomeação da filha Denise Mello para desembargadora federal.

Nesta segunda-feira, houve o xeque-mate no xadrez da política. O ministro Luís Roberto Barroso, que se mostrara tão solidário a Dilma no julgamento do rito, também afirmou que impeachment não é golpe e adiantou que o Supremo vai respeitar a decisão do Congresso.

Portanto, o placar já é de 5 a 1. Falta apenas um voto para a condenação antecipada de Dilma. Ainda não se manifestaram Luiz Fux, Teori Zavascki, Rosa Weber, Édson Fachin e Ricardo Lewandowski. Dilma precisa que todos eles sejam contra o impeachment. Mas ninguém acredita mais nisso, até porque Rosa Weber se sentiu ofendida pela gravação em que Lula insinuava que ela poderia ser convencida a apoiá-lo.

Tradução simultânea: Dilma Rousseff vai perder na Câmara, no Senado e no Supremo. Seu mandato não existe mais, é apenas virtual. Como no célebre filme de Vincente Minnelli, ela já pode dar adeus às ilusões. E vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha, que faz uma falta enorme a este país.

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