Não aceitar ser julgada, bom Deus, vamos condenar a democracia brasileira à desordem. O político não é lotado no Estado, como o tijolo na parede! A verdade enfrenta um tráfego pesado no mundo. Sou a versão para gringos, o gigante que se debruça sobre ela.
Todo julgamento, para conter alguma possibilidade de sucesso para o acusado, deve carregar uma dúvida razoável e necessária, que paralise a consciência de quem julga. Ela sempre teve seu próprio método.
Nunca quis aliados, mas devedores de obrigação. Sentia seus desejos como exigência. E, assim, não reconhecia a ninguém o direito de entendê-la. Czarina do czar que a escolheu, caminhava negligente se fazendo dura. Para dar credibilidade à sua história, multiplicou por dez seus inimigos. Povoava seus dias contando traições. Ampliava sua angústia, mas as coisas não ficavam nisso.
E aquele quase nada para a razão do outro era reforçado por interlocutores que a faziam escapar mais ainda da realidade. Eles temiam complicações com aquele nenhum talento para a reciprocidade. Sua bossa é botar culpa nos outros. Ela se fatigava e seus amigos a mimavam, dizendo que caminhava para a perfeição.
Tempestade sem relâmpago confundiu seu desencanto com virtude, sua incapacidade com a verdade. Embora vivendo no rebanho comum da política desde sempre, só não era joão-ninguém quem a tolerava. E foi assim, só reconhecendo legitimidade em quem a inocentasse, que entrou naquela sala azul de quase 200 anos.
Ao nomear a realidade de escândalo, a política traz o escândalo para a realidade. E fica dispensada de se convencer que desvios políticos costumam ser sempre obra de panelinhas. Grupos que conquistaram posição estrutural e material acima das condições da sociedade e se alienaram em relação a ela. Suas ideias perdem a maturidade para representar o interesse e a consciência da maioria. E o ciclo histórico de onde vieram se esgota, com seus principais personagens ainda vivos.
Não há necessidade mais de crítica. O argumento tornou-se parasita do problema velho. São anomalias, que serão melhor retratadas pela literatura e o cinema. O que precisamos, agora, é de um movimento abolicionista de práticas antigas.
Não é que ela venha de fora, da conversa, das leituras, da experiência. A liberdade que sustenta a coerência e o respeito à opinião dos outros vem de dentro da pessoa que já tenha dentro dela o gosto pela liberdade.
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