Desde que o ex-presidente Lula assumiu o mais alto cargo da hierarquia brasileira e, em consequência, ficou muito mais visível do que antes, seu narcisismo congênito se mostrou em tonalidade muito mais forte. Vencido por incontrolável vaidade, patenteou-se a pretensão de mostrar-se como o melhor governante que dirigiu o Brasil através dos tempos.
Atacado por impiedosa frivolidade, não poupou autoelogios e, assim, passou a utilizar qualquer oportunidade para externar o elevado conceito que faz de si mesmo, notadamente na condição de chefe de Estado acumulada com a de chefe do governo, com a qual o regime presidencialista costuma premiar o detentor das funções presidenciais.
Parecia que uma energia estranha e irrefreável o movia na autoglorificação, como se fora algo doentio. Foi por esse tempo, já um tanto distante, que suas hipérboles foram consolidando o conceito que passei a fazer do então presidente, acendendo-me a desconfiança, cada vez mais sólida, da sua peculiar personalidade.
O fato mais curioso extraído de meu senso crítico foi a vinculação do chefe do governo com o personagem do grande escritor mulato Lima Barreto, desde então famoso, com o nome de Policarpo Quaresma, ao qual coube um triste fim.
Vejamos quem era o curioso protagonista do romance do escritor carioca e sua trajetória. Patriota era sua qualificação mais vigorosa. Portador de um patriotismo exaltado aos que o conheciam, não obstante fosse alvo de respeito dos vizinhos, causou estranheza o excesso de amor à pátria; como se esse traço não bastasse, cismou nosso bravo herói com o violão que não sabia tocar. Para afastar a frustração, contratou Ricardo Coração dos Outros para ensinar-lhe o instrumento, que logo aprendeu. Além de exímio instrumentista, também estudava e conhecia o tupi-guarani, sob o argumento de que tal língua era a melhor e mais radical expressão de um Brasil bem brasileiro.
Na segunda parte do livro, tem uma experiência na agricultura: compra um sítio no Nordeste, dá-lhe o nome de Sossego, mas não dá certo: a terra, que Policarpo, nacionalista de escol, considerava a melhor do país, era um fracasso; os contratempos se tornaram tantos que, desanimado, pensou numa reforma agrária, porém muito aquém de seus desejos de progresso para o Brasil.
Na terceira parte, Policarpo volta para o Rio, se envolve com Floriano Peixoto e mete-se na revolta listado de major. Termina esta, e o então oficial inexplicavelmente é levado para a prisão. Inconsolável, Quaresma não compreende o que fizeram, logo a ele, patriota de todas as horas. É quando Olga, sua sobrinha, vai visitá-lo. Ao chegar e ouvir que o padrinho é um traidor, decide que o melhor é deixá-lo morrer com seu orgulho, como um herói.
Lima Barreto para por aí e transfere a morte do personagem à imaginação do leitor. E daí, é de inquirir qual a ligação entre Lula e o grande herói. Nenhuma, exceto que Policarpo vestiria a mortalha por sua pátria e, se vivo fosse, lutaria até a última gota de sangue de inocente para desbaratar a formidável gangue formada por empreiteiros, partidos políticos, parlamentares e governo para dilapidar a Petrobras e muitas outras empresas públicas e saciar os donos de um poder ilegal e ilegítimo, porque são bens do povo.
E Lula? Na melhor hipótese, refugia-se na omissão, enquanto a nação arde em fogo diante dos bilhões abocanhados. Mas ainda há juízes no Brasil do quilate de Sergio Moro, capazes, altaneiros e independentes, de julgar e punir com justiça.
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