terça-feira, 22 de setembro de 2015

Eleição com comécio: preço zero das campanhas

Você, que é jovem, tornou-se gente já sob o império das tele: televisão, telefax, telex, teletipo, teleprompter, telemarketing; não conheceu a propaganda eleitoral feita com comícios.

A voo de pássaro, este artigo pretende contar-lhe como era a luta pela conquista do voto. Para banhar em poesia, imagine uma cidade aí duns 30 mil habitantes, com sua praça principal ocupada pela igreja matriz, o cinema, o grande jardim público, belo arvoredo, local onde o povo se reúne sempre que houver celebração que o atraia.

Era nesse local que se montavam o palanque e o sistema de som, fixadas a data e a hora para apresentação dos candidatos aos cargos eletivos locais, estaduais ou federais. A cidade já estava a par da reunião; boletins tinham conclamado o comparecimento das pessoas para a grande festa da sexta-feira, às 20h, em geral com a presença dos candidatos, que discursariam com ardor.

Comício também era em cima de caminhão nos anos 1'960
Naquela época, a oratória era prestigiado meio de comunicação nos parlamentos, nos comícios, por toda parte, e a plateia estava sempre engatilhada para aplaudir certos lances das falas, para reforçar o vigor do falante e para aprovar seu particular fraseado.

Havia encarregados para iniciar essa interrupção e mostra leal ou fingida de arrebatamento dos ouvintes. Frases feitas de uso corrente eram “já ganhou, já ganhou”, “viva fulano de tal”. De pé, espremidos como um mandruvá, os ouvintes vinham de bairros afastados e por vezes de distritos longínquos, trazidos e depois levados por veículos de chefes políticos, que apostavam sempre na obtenção do maior número de presentes na assembleia.

Havia o candidato que, sendo orador retumbante e dono de frases de efeito, no comício lascava seu verbo, com estrondosas metáforas e vagas promessas de um tempo melhor, sendo raro que prometesse coisas concretas. A atmosfera política sugeria mais defesa de liberdade, direitos individuais, repulsa a governo autocrático. Nesse particular e nessa linha, são memoráveis os pronunciamentos dos candidatos da UDN, que era antes uma aglomerado de intelectuais profissionais.

Os candidatos do PSD e do PTB, dois fortes adversários da UDN, eram pragmáticos; em lugar de soltar ditirambos e prosopopeias, prometiam benefícios concretos, nomeavam obras que o povo sabia necessárias e jamais transmitiam a impressão de se sentirem um dedo acima do valor dos ouvintes.

Raramente havia confusão ou briga em comício. A polícia estava adrede informada da reunião, local, horário, e pronta para agir.

Dá para você ver que tudo era ao vivo, real, sem pomada e sem retoque, ombro a ombro, contato direto e quente de candidato com a massa, baixíssimo custo na campanha eleitoral, nós, eleitores, jamais tínhamos que pagar para ver e ouvir mentiras coloridas na tela que pode projetar como santinho um diabo afuleimado. Santo ou diabo, era cara a cara.

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