É motivo para preocupação. Muita preocupação. Se ajudasse, seria até o caso de entrar em pânico. Assistir à escalada global do nacionalismo, da xenofobia, do protecionismo e do radicalismo, embalado em populismo boa coisa não é. Não importa a ideologia ou a região do planeta.
O problema é que preocupação não leva a lugar algum. Remoer problemas é inútil. Perder o sono, um desperdício. Não vale chorar. Mais produtivo é investir energia e tempo em outras coisas. Rever as causas. E resolvê-las.
Sempre dá para culpar os eleitores. Explicar o sucesso de propostas e candidatos extremistas usando a incapacidade da população em tomar boas decisões. Mas isto é equivalente a determinar que, eleitor bom é eleitor que vota como queremos. E, quando vota diferente, é ignorante. Além de obviamente antidemocrática, pensar assim leva ao nada. Ou melhor, não ajuda. Só piora.
Mais produtivo talvez seja reconhecer que existem parcelas significativas da população mundial que não se sentem ouvidas ou representadas. E elegem, por falta de opção, candidatos que representam a negação “do que está aí” (para usar expressão que parece não sair de moda). Daí o convite ao populismo e a radicalização.
Não basta chamar estes eleitores de ignorantes, massa de manobra, racistas, sexistas, ou qualquer outro adjetivo negativo. Dificilmente eles de fato o sejam. Mais provável que, em sua maioria, simplesmente sintam que seus interesses estejam excluídos das propostas das plataformas de centro, seja à esquerda ou à direita. E, usam sua voz. Gritam através de seus votos.
Parece que os lideres moderados perderam sua capacidade de organizar agenda que agregue a maioria dos eleitores. As agendas de líderes (que pelo menos se proclamam) moderados ou progressistas parecem uma coleção de interesses especiais, demandas corporativas, representando setores fragmentados da sociedade.
Daí tantas eleições apertadas. Daí a aposta no conflito. E o triunfo de propostas populistas, onde tudo é prometido, mas nada vai ser entregue. Mas isso dá sempre para deixar para depois da eleição. Do populismo, como sabemos, não respingam soluções. Apenas jorram problemas.
Grandes desastres normalmente não surgem do talento de líderes nefastos. Eles são apenas parte da paisagem. Grandes desastres são apenas a manifestação da incapacidade ou omissão dos líderes moderados em produzir e executar propostas que agreguem a maioria sem demonizar as minorias.
Soluções não são produzidas a partir da intolerância e da exclusão. Somente o diálogo e a capacidade de conciliar diferenças e diversidades levam a estabilidade política e econômica duradoura. Mas para isso, precisamos de estadistas. Urgentemente. E como eles fazem falta.
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