Não é a primeira vez na História que isso ocorre em momentos de crises econômicas e de instituições da democracia representativa. O fascismo e o nazismo chegaram ao poder como alternativa à crise sistêmica dos anos 20/30, que desaguou na Segunda Guerra Mundial.
O nacional-socialismo, na sua ala mais radical representada pelos irmãos Strasser, membros do Partido Nazista e rivais de Adolf Hitler, adotou um discurso anticapital financeiro. Assim como a extrema direita de hoje vocifera contra a internacionalização da economia, contra o sistema financeiro e os fóruns multilaterais do concerto de nações.
São contextos históricos absolutamente diferentes, daí a importância de não se absolutizar a comparação entre a ascensão do fascismo nos anos 30 e a emergência da “nova direita” nessa segunda década do século 21. Mas há semelhanças, particularmente em relação à sua argamassa ideológica.
Se os excluídos foram a base social do populismo de esquerda do início do século, os desincorporados são a base de sustentação da atual voga nacional-populista. A região de Lorraine, na França, está para Marine Le Pen assim como os estados do “cinturão da ferrugem” esteve para a vitória de Donald Trump.
O sucateamento de sua indústria pesada e a concorrência internacional engoliram milhões e milhões de empregos e de renda. No caso da França, a perda foi de 1,4 milhões de postos de trabalho na indústria, nos últimos 25 anos. Não é um fenômeno isolado. Na União Europeia, a mão de obra industrial caiu de 27% para 23% do total de empregos, desde a crise de 2008 até 2014.
A globalização trouxe enormes ganhos, maior eficácia econômica, incremento extraordinário da produtividade, barateamento dos produtos, avanços tecnológicos extraordinários em todas as áreas, hiperconectividade, fim da bipolaridade. Mas se deu de forma desregulamentada, sem distribuição da riqueza gerada. Ao contrário, concentrou-a nas mãos das grandes corporações financeiras e industriais. Não constituiu, em escala planetária, uma rede de proteção social.
Ainda serão necessários muitos estudos para entender porque a velha classe operária, da qual se originaram os partidos socialistas, socialdemocratas e comunistas, apoia Trump, Marine Le Pen na França, Nigel Farage, principal liderança do Brexit, o Movimento Cinco Estrelas do comediante italiano Beppe Grillo, Geert Wilders, líder das pesquisas para a próxima eleição parlamentar da Holanda, defensor da “deslamização” do país, e Norbert Hofer, da Aústria, que pode ser eleito chefe de estado na eleição de 4 de dezembro.
O pano de fundo de uma guinada tão profunda é a desindustrialização, um processo que teve início na Europa com a queda do muro de Berlim, com as indústrias se deslocando para os antigos países do socialismo real, onde a mão de obra é mais barata, principalmente a China.
A crise de representação e da política formal, partidos, sindicatos, entre outros, jogou água para o moinho da direita “outsider”, até porque experiências à esquerda de uma nova forma de se fazer política – Syriza na Grécia e Podemos na Espanha – não lograram êxito, ao menos por enquanto.
O populismo da extrema direita fica evidente em suas palavras de ordem: “o povo contra as elites”, na campanha do Brexit; “em nome do povo”, slogan de Marine Le Pen; bem como na recente campanha de Donald Trump, pautada no discurso do “nós x eles”, contra o “sistema”, com o seu “make America great again!”. Os “inimigos” são o livre comércio, os imigrantes, os estrangeiros, os diferentes, os “outros”- uma figura vaga e difusa.
Quanto tempo levará para o nacional-populismo se esgotar não se sabe. Mas passará. Afinal, a morte da democracia liberal foi decretada várias vezes, e ela sempre voltou com força.
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