Vale a pena conferir do começo ao fim o palavrório recitado pelo corrupto à beira de um ataque de nervos. É um show de cinismo. É, sobretudo, outra prova contundente de que, antes da Operação Lava Jato, todos os poderosos patifes se julgavam condenados à perpétua impunidade. Como tantos outros gatunos da classe executiva, Cabral só se deu conta de que o Brasil mudou ao ser acordado pela Polícia Federal às seis da manhã. Como tantos outros larápios cinco estrelas, jura que não cometeu sequer pecados veniais. Como todos, logo estará flertando com um acordo de delação premiada.
Durante o depoimento prestado por Delcídio do Amaral ao juiz que personifica a Lava Jato, integrantes da tropa de cinco doutores a serviço do Instituto Lula recorreram a apartes indevidos, comentários provocadores e contestações insolentes para tumultuar o ambiente, abalar o equilíbrio emocional de Moro e, se possível, conseguir uma providencial prisão por desacato à autoridade. Embora merecídíssimo, o castigo seria apresentado pelos defensores do indefensável como prova de autoritarismo e intolerância. Habituado a lidar com delinquentes, o juiz não caiu na armadilha.
Somadas, a performance do ex-governador no vídeo e a ofensiva desesperada do ex-presidente confirmam o que a coluna vem repetindo há alguns anos: no faroeste à brasileira, meliantes se ofendem com alusões a seu vasto acervo de patifarias e o bandido insiste em prender o mocinho. A Lava Jato colocou o script do avesso e inverteu o fim do filme. Agora, como informam as fotos mais recentes de Cabral, os vilões acabam na cadeia.
Augusto Nunes
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