quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A Lava Jato mudou o script do faroeste à brasileira

Em outubro de 2012, como atesta o vídeo acima, um repórter da TV Globo perguntou a Sérgio Cabral se o então governador fluminense temia a quebra do sigilo bancário da Construtora Delta, pertencente ao amigo e patrocinador Fernando Cavendish. “Imagina! Por que que eu temeria?”, reage o irritadiço reizinho do Rio. “Por que que eu temeria?”, repete a voz de soprano. “Acho até um desrespeito da sua parte me perguntar isso. Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários, outra coisa é a impessoalidade da decisão administrativa”.

Vale a pena conferir do começo ao fim o palavrório recitado pelo corrupto à beira de um ataque de nervos. É um show de cinismo. É, sobretudo, outra prova contundente de que, antes da Operação Lava Jato, todos os poderosos patifes se julgavam condenados à perpétua impunidade. Como tantos outros gatunos da classe executiva, Cabral só se deu conta de que o Brasil mudou ao ser acordado pela Polícia Federal às seis da manhã. Como tantos outros larápios cinco estrelas, jura que não cometeu sequer pecados veniais. Como todos, logo estará flertando com um acordo de delação premiada.

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O hóspede involuntário de Bangu 8 acabou de descobrir o que Lula teima em não enxergar. Na sexta-feira passada, como exemplifica o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o noticiário político-policial destacou o mais patético momento da Ópera dos Cafajestes, concebida por advogados sem pudores e protagonizada por um culpado sem álibi: o ex-presidente que saiu da História para cair na vida criminosa pediu à Justiça que prenda o juiz Sérgio Moro por “abuso de autoridade”. Não há limites para a vigarice. Nem para a insolência, confirmou o comportamento dos bacharéis de Lula nesta segunda-feira, numa audiência judicial em Curitiba.

Durante o depoimento prestado por Delcídio do Amaral ao juiz que personifica a Lava Jato, integrantes da tropa de cinco doutores a serviço do Instituto Lula recorreram a apartes indevidos, comentários provocadores e contestações insolentes para tumultuar o ambiente, abalar o equilíbrio emocional de Moro e, se possível, conseguir uma providencial prisão por desacato à autoridade. Embora merecídíssimo, o castigo seria apresentado pelos defensores do indefensável como prova de autoritarismo e intolerância. Habituado a lidar com delinquentes, o juiz não caiu na armadilha.

Somadas, a performance do ex-governador no vídeo e a ofensiva desesperada do ex-presidente confirmam o que a coluna vem repetindo há alguns anos: no faroeste à brasileira, meliantes se ofendem com alusões a seu vasto acervo de patifarias e o bandido insiste em prender o mocinho. A Lava Jato colocou o script do avesso e inverteu o fim do filme. Agora, como informam as fotos mais recentes de Cabral, os vilões acabam na cadeia.

Augusto Nunes

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