O planeta caminha rumo à “direitização”? É possível que sim, mas a direitização do mundo é produto espúrio do fracasso da esquerda.
Esta me parece ser o mais importante: o fracasso da esquerda – e este fracasso decorre de vários fatores: o envelhecimento do discurso de esquerda; inadaptação a um mundo complexo, dominado pela tecnologia, pela internet e pelas redes sociais; incapacidade de levar à prática suas propostas de justiça social e, não menos importante, a corrupção, que em certos casos e alguns países, como o Brasil, tornou-se endêmica e sistêmica. O pior é que a esquerda nada faz para se passar a limpo. Fica repetindo a mesma cantilena.
Cá no Brasil, a esquerda não percebeu que os 54 milhões de votos da sua candidata foram direcionados ao seu discurso eleitoral, que fechadas as urnas, mostrou-se ser um baita estelionato. Tudo o que ela atribuia ao seu adversário, foi assumido por ela no dia seguinte às eleições. Na maior cara de pau. Se a candidata do PT recebeu 54 milhões de votos, em 2014, o PT só obteve 6,8 milhões, em 2016. O PT perdeu mais de 85% dos votos que obtivera dois anos antes. Talvez seja caso único no mundo.
Em 2014, não só a militância, os simpatizantes e a classe operária votou em Dilma, mas a classe média e setores da elite. Em 2016, o PT só recebeu votos da militância e dos simpatizantes. Danou-se.
A verdade é que o PT criou um problema sério, talvez intransponível, para a esquerda brasileira, para o pensamento de esquerda no Brasil. Hoje, a sociedade brasileira – e não vamos acusá-la de ser intrinsicamente de direita – vota em candidatos que a esquerda acusa de ser de direita. Bem, alguns são, mas não todos, mas a esquerda é incapaz de perceber nuances: a esquerda só trabalha com juízos extremos, tipo direita e esquerda, preto ou branco. E, por isso, está perdendo (se é que não já perdeu) o bonde da história. A esquerda precisa modernizar-se, atualizar seu discurso, estudar o Brasil, o mundo. Tenho escrito muito a esse respeito.
Se nos anos 1950, alguém perguntasse ao Velhote do Penedo como seria o Brasil em 2016, certamente ele seria bem diferente do que é hoje. Naquele tempo, o Velhote era movido pela esperança.
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