A greve dos caminhoneiros teve impacto negativo importante sobre a atividade, especialmente sobre a produção industrial, e foi responsável por uma série de revisões para o indicador que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou.
Algumas projeções foram cortadas pela metade depois dos 11 dias de paralisação, que bloquearam estradas e causaram desabastecimento.
Além dessa questão circunstancial, contudo, os números do PIB são um retrato de uma retomada lenta, marcada pela dificuldade de gerar emprego e de estimular os investimentos – e deixam cada vez mais claros os desafios do próximo presidente.
A seguir, cinco diagnósticos que o principal indicador de atividade econômica dá sobre o país que os candidatos ao Executivo prometem transformar partir de 2019.
A construção ainda não reagiu
Desde que a recessão acabou – de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getulio Vargas, no fim de 2016 –, a construção civil é o único setor que ainda não conseguiu se descolar dos números bastante negativos que marcaram os anos de crise.Depois de ficar relativamente estável no fim do ano passado, a atividade no segmento voltou a contrair em 2018. Teve queda de 0,4% no primeiro trimestre e de 0,8% de abril a junho, na comparação com o período imediatamente anterior.
Hoje, seu nível é semelhante ao de 2009, o pior desempenho mostrado pelos dados do PIB.
"A construção atingiu o fundo do poço e não tem dado sinais de reação", avalia Sarah Bretones, da MCM Consultores.
O cenário é explicado, de um lado, pelo fato de este início de recuperação estar sendo puxado mais pelo consumo do que pelos investimentos.
A liberação de recursos das contas inativas do FGTS e o ganho de poder de compra proporcionado pela queda da inflação foram alguns dos fatores que, no ano passado, contribuíram para que o comércio avançasse 1,8% – quando a economia como um todo cresceu 1%.
Na contramão, a área de infraestrutura não teve o mesmo tipo de estímulo. Com o Orçamento do governo federal e dos Estados no vermelho, praticamente não houve construção de estradas, de moradias populares ou obras de saneamento por iniciativa do setor público.
Já o setor privado, que ainda digere dívidas do passado, segue desalentado pelo ambiente de crise política e de insegurança em relação ao futuro. A esse fator a economista da MCM acrescenta o impacto indireto da operação Lava Jato, que acabou afastando do mercado grandes empresas – parte das companhias acusadas de envolvimento nos escândalos de corrupção segue vetada de participar de licitações e muitas reduziram em mais da metade o quadro de funcionários.
A construção é um dos quatro setores que compõem a indústria dentro do PIB, ao lado do segmento de eletricidade, água e esgoto e das indústrias extrativa e de transformação.
Uma década de retrocesso dos investimentos
Esse quadro explica em parte o desempenho ruim dos investimentos. Chamados de Formação Bruta de Capital Fixo no PIB, eles despencaram cerca de 30% durante a crise e estão reagindo em ritmo muito mais lento do que se esperava."A construção e os investimentos andam muito juntos", pondera Igor Velecico, do Bradesco.
No ano passado, eles chegaram a esboçar uma reação, crescendo "até 8% em termos anualizados", mas a situação voltou a piorar em 2018. A retração de 1,8% entre abril e junho, em relação ao primeiro trimestre, é a primeira queda depois de um ano de resultados positivos.
Hoje, seu nível também é semelhante ao que o país registrava em 2009.
Especificamente no segundo trimestre, o resultado negativo dos investimentos foi influenciado pela indústria de transformação, que teve parte das atividades paralisadas em maio, por causa da greve dos caminhoneiros. Nesse segmento, o tombo foi de 0,8% (e de 0,6% na indústria como um todo).
Velecico calcula que a paralisação tirou 0,2 ponto percentual do PIB do segundo trimestre.
O cenário para o restante do ano tampouco é animador. As incertezas em relação à eleição, que têm feito muitas empresas segurarem os investimentos e deixarem os projetos na gaveta, se mantêm.
E se somam ao ciclo recente de desvalorização do real – o dólar caro eleva o custo da importação de maquinário e de tecnologia e também joga contra a Formação Bruta. Para o economista do Bradesco, os investimentos vão continuar encolhendo até o fim de 2018.
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