Michel Temer afirma que não renunciará; antes, prefere ser derrubado. A batalha só está perdida quando se ergue bandeira branca; o presidente ganha tempo, até para negociar melhor a saída. Que moribundo descrê de milagre? Todavia, o agravamento da situação fica evidente: a confiança de que o presidente reagirá é, a cada dia, mais tênue. Mesmo desqualificando o mensageiro, o governismo não consegue apaga a mensagem: os detalhes do encontro com Joesley Batista levarão a vida toda para explicar.
A céu aberto, se discute o nome que substituirá Temer. Jornalistas especulam; caciques partidários cogitam; empresários, em desespero, questionam: qual é o nome? Ansiedade e precipitação ampliam as possibilidades de erro. Colocar a carroça a frente dos bois, discutir nomes e não critérios, talvez seja o primeiro deles. Os critérios, contudo, dependem da consciência dos problemas.
Necessário ir às causas estruturais da crise. Os problemas não estão apenas em Temer; como não estavam exclusivamente em Dilma, não estarão só em Rodrigo Maia. Na internet, já há meme “Fora Maia” — não apenas por sarcasmo, mas também pela evidência estrutural dos problemas. Troca-se moscas, nomes se sucedem e o país continua na mesma.
O sistema deixou de funcionar: o presidencialismo de coalizão baseado no fisiologismo chegou ao colapso. O tradicional modo de financiamento da política chegou ao esgotamento — o patrimonialismo matou a galinha dos ovos de ouro. O mal corporativista está ativo e oculto; uma terrível crise de liderança revela o desgaste dos materiais e a falta de renovação.
A crise econômica é resultado de um pouco de tudo; omitir sua natureza política, não dissipa os problemas, apenas prolonga o drama. Confunde-se efeitos e causas, se quer amenizar a dor, mas se não se vai à doença. Nomes com foco específico nas reformas econômicas — Maia ou Meirelles —, não compreendem a natureza política da crise; são incapazes de superá-la. Tornam-se água que vai à chama, não à origem do fogo. Quer-se baldear um naufrágio com as mãos.
Os critérios deveriam ser claros: primeiro, a obediência à Constituição; depois, não bulir com a Operação Lava Jato — nos limites da lei, ela pode levar a ajustes na relação público-privado. Ao mesmo tempo, necessário preservar Meirelles e a área econômica — tudo o que o país não precisa é de mais incerteza e a sensação de ainda maior amadorismo.
Importante comunicar a gravidade da situação: o governo quebrou, não há soluções simples; mostrar os dados, persuadir sem cooptar — tudo o que Temer foi incapaz de fazer. No mais, a concertação dependerá do distensionamento político: reduzir os conflitos a patamares civilizados; tolerância e pacto de convivência democrática. Reconfigurar o sistema político. Correndo tudo muito bem, avançar na agenda de reformas econômicas.
O certo é que não se deveria começar pelos “poréns”, críticas e defeitos do possível sujeito. Com vetos e restrições, não se chegará a indivíduo algum. Deve-se partir dos “contudos”: em que pese imperfeições e poréns, o nome, contudo — não obstante, ainda assim — será capaz de identificar causas, respeitar critérios, formar boa coalizão, dialogar, comunicar, articular consensos possíveis? O país chegará a bom termo, em 2018?
Chega-se ao ponto: qual seria o Hércules — raro no mundo contemporâneo — capaz de superar esta dúzia de trabalhos? Definida a gramática, qual a prosódia da concertação: a determinação gaúcha de Jobim ou mansidão cearense de Jereissati?
Carlos Melo
Nenhum comentário:
Postar um comentário