Há quem acredite que os militares vão conseguir, em algum momento, que Bolsonaro tenha uma postura mais presidencial, mais de acordo com o cargo. Esse grupo que acredita numa transformação se diz aliviado por contar com militares na cúpula do poder. Diz que os ex-membros das Forças Armadas são os adultos na sala. Quem acredita numa metamorfose patrocinada pelos militares sonha com um Bolsonaro mais atento aos detalhes dos grandes temas nacionais, sem grosserias pelas redes sociais e ciente do papel da imprensa numa democracia. Esse desejo não é de todo descabido. Disciplina e persistência são duas características dos atuais e ex-membros das Forças Armadas. Se tem uma coisa que os militares sabem fazer é perseguir uma meta.
O problema dessa linha de pensamento esperançosa em uma transformação é não considerar que Bolsonaro também tem incentivos para continuar sendo o velho Bolsonaro de sempre. Se seu governo não conseguir fazer a economia voltar a crescer de forma consistente, se o desemprego não começar a cair logo e se a renda média do trabalhador não aumentar, alguém terá de levar a culpa. Nessas horas, é grande a tentação de apontar o dedo para a imprensa, o Congresso, o mau tempo ou o que for. As razões para manter a mesma fórmula de atuação vão além de achar um bode expiatório em eventuais momentos de crise. Quanto mais “autêntico” Bolsonaro aparecer, mais acesa estará a parte da sua base de apoio preocupada com os chamados temas de costumes. Se quiser manter essa base eletrizada, o presidente vai continuar usando as redes sociais da mesma maneira que sempre usou. Bolsonaro passou quase três décadas no Congresso sendo Bolsonaro, foi eleito presidente sendo Bolsonaro. Ainda que quisesse muito, talvez não conseguisse usar outro figurino. Nem com a insistência dos militares.
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