quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O que falta o diretor da Polícia Fwderal esclarecer...

Roga-se ao delegado Fernando Segóvia, novo diretor-geral da Polícia Federal, que esclareça algumas questões que ficaram no ar depois do seu discurso de posse, anteontem.

Sobre a mala, por exemplo. Ele disse que uma mala, como a carregada em São Paulo pelo ex-deputado Rocha Loures, não bastava para caracterizar crime de corrupção. De acordo. Mas...

Quando foi filmado com a mala, Rocha Loures era deputado do PMDB do Paraná e assessor especial do presidente Michel Temer. A mala continha R$ 500 mil em dinheiro vivo.


Isso poderia sugerir algo suspeito, Segóvia? Suspeito o suficiente para ser investigado? Ou não? Ou um deputado pode transitar impunemente por aí com uma mala cheia de dinheiro?

Até que pode, mas não é seguro. Quem se arriscaria a fazê-lo em um país onde bandidos assaltam e matam impunemente? Esse Rocha Loures seria um temerário, o que nada tem a ver com Temer.

Bem, mas ao que se sabe, apurado pela própria Polícia Federal, Rocha Loures acabara de receber a mala das mãos de um alto executivo do Grupo J&S que, por sinal, estava sob a mira da polícia.

Sabe-se também, por confissão do executivo que se tornou um delator, que o dinheiro dentro da mala foi dado a Rocha Loures a título de pagamento de propina. Êpa, Segóvia.

Aí não haveria um forte indício, quase diria uma prova, de crime de corrupção? De crime de corrupção cometido pelo corruptor e pelo corrompido, faltando averiguar quem corrompeu quem?

A cena do deputado correndo com uma mala de dinheiro deu-se na sequência de um encontro entre o presidente da República e o dono do grupo cujo executivo presentou Rocha Loures com a mala.

Foi durante esse encontro que o dono do grupo falou ao presidente que tinha pendências com o governo. E ouviu como resposta que se entendesse com Rocha Loures, seu homem de confiança.

Ôpa! Convenhamos, Segóvia: não lhe parece que a mala em questão há muito deixara de ser apenas uma mala, simplesmente uma mala, acima de qualquer suspeita como, de resto, o seu carregador?

Sim, a quem se destinava a mala? A Rocha Loures? Teria ele traído a confiança do presidente e achacado dinheiro para facilitar o acerto de pendências do Grupo J&S com o governo? Pobre Temer!

Uma vez filmado carregando a mala, Rocha Loures devolveu-a aos cuidados da Polícia Federal. Mas ficou com R$ 35 mil do total de R$ 500 mil. Devolveu-os depois. Teria sido sua comissão no negócio?

Se fosse, o resto do dinheiro não lhe caberia. A quem caberia, Segóvia? Tudo bem que nos últimos dois anos você viveu na África do Sul, distante do que se passava por aqui.

Mas deve ter conservado seu faro de bom policial. Tão bom policial que acabou promovido ao mais alto posto de sua carreira. Não podem lhe faltar méritos para tal.

Segóvia: ainda está em tempo de desfazer a péssima impressão que deixou no dia mais importante de sua vida até aqui. Revise a teoria da mala que nada prova.

Traia a confiança dos que lhe indicaram para o cargo – o PMDB de Sarney, Renan, Jucá, e sabe-se lá mais quem. Cumpra com o dever que seu cargo lhe impõe.

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